terça-feira, 28 de outubro de 2014

Nunca é tarde

"Erra aquele que não principia a aprender por supor que já é tarde" (Séneca)

Como sou dos que julgam que nunca é tarde, seja para o que for quanto mais para nos sentarmos novamente numa sala de aula, agora deu-me para voltar a estudar. Diz a minha cara metade, e não sem razão, que já o devia ter feito. Casmurrices de macho, que nestas coisas ela é muito mais à frente. Adiante.

E assim, pela noite adentro, depois de esmifrado durante o dia no escritório a levar mercadorias por esse mundo fora, das valentes das nossas empresas que continuam em busca de novos mundos, também eu procuro outros mundos de conhecimento pela voz de tão ilustres professores, que heroicamente combatem "joão pestana" com a luz do conhecimento e do saber.

Não estranhem por isso não vir aqui tão amiúde mandar postas de pescada, pois outras prioridades se alevantam, o tempo escasseia e a cabeça não dá para tudo. Mas se Deus quiser algo se há-de arranjar, nem que seja a espreitar as postas nos "tascos" dos outros.

sexta-feira, 24 de outubro de 2014

segunda-feira, 20 de outubro de 2014

Duendes Verdes


(Imagem via DN)

Um país a braços com um crise profunda, com uma economia esclerosada, com um povo esmifrado, sufocado, esmagado, burro de carga, saco de pancada de um bando de incompetentes, espremido até ao tutano por uma carga fiscal pornográfica, e onde os seus políticos têm a ousadia de anunciar mais impostos em prol de uma qualquer aldrabice ambientalista é um país (des)governado por lunáticos.

Pintar de verde um aumento da carga fiscal é uma insanidade, uma aldrabice, um embuste, uma mentira inqualificável. É uma verdadeira fraude fiscal, porque não é verde, mas sim bem vermelha.

Daí que muito me intriga cada vez mais como as pessoas não se perguntam algo muito simples: o que fazem no seu dia-a-dia os políticos num minúsculo país onde todas as aldeolas têm saneamento básico, energia, estradas, campos da bola, pavilhões multi-usos, rotundas, piscinas, jardins, museus, escolas, universidades, centros tecnológicos, parques industriais, portos e aeroportos?
Só não vê quem não quer: inventam, endividam-nos e pedem que votemos neles.

domingo, 19 de outubro de 2014

Vinho é Alentejo (5)


(Herdade Fonte Paredes Rerserva Tinto 2007)

Não sou de arriscar demasiado em "cenas" novas sem antes ter alguma referência, mas de vez em quando lá sou um pouco mais afoito e toca de provar o desconhecido.
Foi assim com este Herdade Fonte Paredes Reserva Tinto, que desconhecia completamente até o comprar para o almoço. Fiquei a saber que em Avis se fazem grandes vinhos; este pelo menos é enorme.
Abrir, arejar, cheirar, provar e "UAU! estamos diante de coisa boa". As castas presentes prometem desde logo e não desiludem, está carregado de Alicante Bouschet, em grande nível, à qual se juntam Touriga Nacional e Syrah. Nota-se bem a madeira onde estagiou 12 meses, mas também fruta vermelha e chocolate. Com sete anos em cima ainda está em grande nível. Uma grande e excelente surpresa.

domingo, 12 de outubro de 2014

Não importa quem fez o quê, mas sim quem sabia e nada fez (a investigação ao BES)

Este post da Maria João Alves no Corta-Fitas acerta na mouche: a comissão de inquérito não parece querer saber do BES, mas sim de quem sabia o que lá se fazia, mas nada fez ou nada disse. Trocado por miúdos: aqui na tugalândia continuamos com a mentalidade pidesca de acreditar que as instituições do Estado tudo sabem e tudo controlam.

Neste momento parece-me já claro que houve manipulação de números e resultados, pois não é de um dia para o outro que um banco como BES colapsa, com mais buracos que um queijo suíço. Ora se houve números martelados como iriam o BdP, o Governo ou a Troika detectar o rombo atempadamente?
Só alguém muito ignorante acredita que é possível numa auditoria de meia dúzia de dias, ou num teste de stress (de quê?!), detectar seja o que for. Não sejamos também ingénuos, ou desconhecemos porventura que os auditores comem aquilo que lhe põem no prato? Mais difícil ainda seria numa estrutura accionista como a do GES que é um autêntico novelo. Só quem estaria lá dentro, quem punha a mão na massa, é que saberia o andava a fazer e o resultado disso mesmo.

Esta ideia é perigosa, muito perigosa mesmo, pois além de levar o Estado a tentar reforçar, ou a não abdicar, dos elevados poderes que já tem, leva a acreditar que o país não é mais que uma coutada de uma meia dúzia de sujeitos, para os quais somos gado e pouco mais. Mas para que isso não se concretize devemos exigir que os verdadeiros responsáveis do desastre arquem com as consequências das suas brincadeiras. Quem sabia ou não sabia é de somenos importância. A mim interessa-me saber quem fazia o quê e porquê. Por tudo isto não me parece que o BES seja caso para uma comissão de inquérito, mas sim para investigação pela Procuradoria Geral da República.

sábado, 11 de outubro de 2014

Vinho é Alentejo (4)


(Julian Reynolds Reserva Tinto 2007)

Reynolds é nome grande do Vinho em Portugal e no Alentejo, pois a eles se deve a introdução na região de uma casta ex-libris: a Alicante Bouschet.
Este  é daqueles que guardarei na memória por muitos e longos anos. A já mencionada Alicante Bouschet brilha com luz própria, a dar corpo, volume, cor, muita cor, imensas notas notas vegetais e a incorporar, como mais nenhuma, a madeira. A Trincadeira e a Touriga Nacional complementam um lote brilhante. Excelente é um adjectivo curto.

quinta-feira, 9 de outubro de 2014

Uns bitaites sobre a economia angolana

Sete anos em Angola dão para conhecer muito, viver muito, por isso muita gente me pergunta o que penso da economia angolana: o seu crescimento, as suas projecções, como é composta, o que a sustenta, etc.; no fundo querem saber se é um mercado onde valha a pena investir ou explorar, já que tantos ainda hoje a conotam - erradamente - como um el dorado.

Atentem como nos últimos anos as previsões de crescimento têm sido constantemente revistas em baixa, pois se previamente arrancam em alta e a meio do ano há uma revisão, no fim a coisa pinta bastante diferente. Vejam estes números de 2012, 2013 e 2014, e comparem com estes outros aqui ou aqui. As diferenças são notórias.

Três factos incontornáveis sobre Angola: não há total liberdade à circulação de pessoas, capitais e bens.
Angola tem um défice gigantesco de mão de obra qualificada, mas é incrivelmente burocrático e moroso obter um visto de trabalho para um trabalhador expatriado.
Depois é surreal a demora e a burocracia para pagar o salário a esse trabalhador, se ele quiser receber o seu salário - como é seu direito - no seu país de origem; as transferências de divisas são ridiculamente burocráticas e demoradas. Mas não só, pois todas as transferências de divisas são burocráticas (tudo e mais alguma coisa deve ser justificado) e incrivelmente demoradas, portanto os pagamentos a fornecedores estrangeiros são uma verdadeira odisseia. Fornecedores esses, que além de só venderem pré-pago (pelo motivo atrás, mas não só), viram agora diminuir as suas vendas devido ao aumento das tarifas aduaneiras.
Este ano as taxas sobre a maioria das matérias primas (e não só) sofreram aumentos brutais, com a desculpa de ser um motivo para promover a produção local. A pergunta é inevitável: quando não há saneamento nem energia (seja para a população ou para a industria) de que produção local estamos a falar? É que se for a produção de petróleo estamos esclarecidosJunte-se a isso a falta de divisas no mercado para a receita ficar completa (mas não fale nisso em voz alta, que o assunto aqui na tuga é tabu).

Na posse destes dados, e outros que existem disponíveis, cada um faça a sua ideia, mas cautela e caldos de galinha nunca fizeram mal a ninguém. Pessoalmente fico reticente com as constantes revisões - e confirmações - em baixa do crescimento angolano, assim como uma cada vez menor liberdade económica (vivi o explosivo crescimento em 2007/2008 e não tem comparação com a realidade de hoje). País algum enriquece e prospera orgulhosamente só. Já viram outros percorrer o mesmo caminho? Pois... Mais um motivo para aprenderem com o erro alheio.

Como o tema dá pano para mangas, outras considerações ficam para outros posts.

domingo, 5 de outubro de 2014

Vinho é Alentejo (3)


(Terra D'Alter Reserva Tinto 2011)

Desconhecia completamente os vinhos da Terras de Alter, mas a surpresa foi total e o amor à primeira vista (ou primeira prova).
Lote composto pelas castas mais tradicionais do Alentejo e não só (onde cabe a Trincadeira, a Alicante Bouschet e até a Petit Verdot) estagiou nada menos que 22 meses em madeira. A variedade de aromas, a subtileza da madeira e a harmonia do conjunto são notáveis. Ainda é jovem, pelo que mais uns anitos em garrafa só lhe farão bem. Fará história.

quinta-feira, 2 de outubro de 2014

Eu quero metropolitano com uma linha Elvas - Lisboa, pode ser?


Agora que as vacas já foram sangradas para que os bancos fossem desintoxicados começam estes a afiar novamente as facas. Não aprenderam nada. Ou melhor: aprenderam que quem paga as suas asneiras são os mesmos de sempre, que essa coisa do risco sistémico é altamente contagioso e mais mortal que o ébola.
Imagino então os políticos. Esta retórica do FMI é música para os seus ouvidos, pois ultimamente já não havia argumentos para ganhar eleições. Iam prometer o quê ao zé se o estavam a espremer porque não tinham um chavo?

Pessoalmente só me intriga que raio de investimento público é que a puta da Europa precisará no século XXI?!
Nós aqui no cantinho então nem se fala. Já devem estar a pensar num aeroporto em cada capital de distrito (Beja está às moscas porque não tem ligações); num TGV Lisboa-Berlim (porquê ficarmos por Madrid?); um campo de golf em cada concelho do país (para os burros pastarem pois claro); duas auto-estradas a ligar Faro a Bragança (com variantes a São João da Murronhanha e Curral de Moinas); centros de investigação científico-tecnológicos em cada freguesia (que o povo é estúpido e precisamos é de inovação); praias artificiais em todo o interior (que como sabemos é muuuuuito longe do litoral e não há estradas para lá irmos); e ainda carros eléctricos, tabuletas e telemóveis-espertos para todos; enfim é só um homem querer e um socialista sonhar que a obra nasce. E depois feiras e festas e concertos pimba todos os dias para celebrar tudo isto! Um fartote que nos vai tirar da miséria e do atraso civilizacional em que estamos.

No meio desta asneirada toda, só pergunto: e para o investimento privado não se arranja nada? Nadinha? E as pessoas? Como ficam aqueles que contra ventos e marés lá vão mantendo o barco à tona? Que se esfolam diariamente mesmo levando paulada, sendo perseguidos, esmifrados, regulados, asfixiados, espezinhados por um Estado glutão que tudo come... Ah já sei! Vão ser salvos pela mesma receita que nos trouxe o desastre, não é? Pode ser que desta seja diferente. Pois.

terça-feira, 30 de setembro de 2014

A doença infantil do socialismo

Se há coisa que me intriga há bastante tempo é que o passa pela cabeça dos socialistas: mais concretamente o que leva alguém a ser socialista.
Se sua filosofia pressupõe o planeamento central como meio de redistribuição da riqueza, com vista ao equilíbrio social, ou seja para o combate à desigualdade, temos dois tipos entre os seus apoiantes: os que dirigem e os que se sujeitam. Daí que me pergunte que diabo leva alguém - os que se sujeitam - a escolher que outros decidam sobre o caminho da sua vida, sobre a sua pessoa, sobre os frutos do seu trabalho? E acreditam e votam devotamente em tal coisa! Como é possível abdicarem da sua liberdade?! Da mesma forma o que leva alguns iluminados - os que dirigem - a crer que conhecem as necessidades e desejos de milhares, senão mesmo milhões, de pessoas, para se advogarem o direito de decidir o que é melhor para elas? Terão super-poderes?!
A meu ver a coisa é simples: é contra-natura. Ponto. Pode ter sido uma utopia muito gira, mas não passou disso mesmo. Hoje, no séc. XXI, o socialismo é a política do "desmérito", do facilitismo, da via rápida para a ascensão social, é a forma mais rápida da plebe ascender à aristocracia infernizando pelo caminho a vida da burguesia. É a filosofia dos que que acham que o mundo tem obrigações para com eles só porque existem, eles porque existem não têm obrigações para com nada nem ninguém. É a filosofia dos que andam por cá não por ver andar os outros, mas para sugar os outros. É o egoísmo em todo o seu esplendor.
Dizem que é "humanista", que permite igualdade de oportunidades e que dá suporte aos mais desfavorecidos. Igualdade de oportunidades não é igualdade em escolhas limitadas e obrigatórias, somos todos diferentes; e quem decide quem são e como devem ser apoiados os desfavorecidos? Certamente serão os "iluminados" favorecidos pela capacidade de decidir pelo bem de uns, com o dinheiro de outros. Pois. Deve ser... E nós somos é todos parvos que ainda os aturamos.

domingo, 28 de setembro de 2014

Vinho é Alentejo (2)

(Altas Quintas Tinto 2007)

Aproveitando a onda do Alentejo ter sido há pouco eleito a melhor região vinícola do mundo para visitar, vou iniciar uma série com alguns dos melhores exemplares da região que já passaram cá por casa.

Começamos com aquele que, de fininho e sem ninguém dar por ele, passou a ser presença assídua à nossa mesa. Não há quem cá por casa não o eleja como um dos melhores e mais injustamente desconhecidos do Alentejo. Não é fácil de encontrar, mas o esforço vale bem a pena. Vem de Portalegre, é composto pela "santíssima trindade" do Alentejo - Alicante Bouschet, Trincadeira e Aragonês - possui uma harmonia e equilíbrio entre corpo, aroma e taninos à prova dos paladares mais exigentes do mundo. Obrigatório.

sábado, 27 de setembro de 2014

Leitura de fim-de-semana



"Para o homem livre, o país é o conjunto  dos indivíduos que o compõem, não algo acima e além deles. Ele orgulha-se de uma herança comum e é fiel a tradições comuns. Mas considera o Estado um meio, um instrumento, não um concessor de favores e dádivas nem um senhor ou deus que deva ser servido e idolatrado cegamente."

Milton Friedman, Capitalismo e Liberdade (1962)
Actual Editora, 2014. Tradução de Jaime Araújo.

segunda-feira, 22 de setembro de 2014

Uma cambada de socialistas

"Quando falo de normalidade digo que devemos olhar para os grandes números, não para este caso aqui, este caso ali..."

Isto não foi dito por um membro do PCP, do BE ou sequer do PS; foi dito, na semana passada, por Nuno Crato em plena Assembleia da República.

Um dos ministros mais liberais do governo mais liberal de sempre... (Não se riam porque há gente que acredita nesta idiotice).

Um governante que despreza desta forma o indivíduo, que coloca o todo acima das partes, que ignora os "casos isolados" (para usar uma expressão tão do agrado dos nossos políticos) em favor de uma "causa" ou objectivo maior, não merece os nossos votos, não merece a nossa confiança, não merece o salário que lhe é pago também pelos impostos "deste caso aqui, este caso ali".

Não passa de mais uma jarra a ornamentar a imensa galeria desta cambada de socialistas que nos (des)governa há 40 anos.


quarta-feira, 17 de setembro de 2014

Um país de telenovela

Tantos anos longe fizeram-me esquecer o quão surreal, caricato e bipolar consegue ser o nosso país. Agora que regressei tenho dias em que não sei se estou a assistir a uma telenovela de qualidade duvidosa, se a realidade é mesmo assim ou sou eu que tenho um gene à la Tim Burton que distorce tudo que vê.

Os Portugueses são uns socialistas invertidos: todos têm a obrigação de contribuir para o meu bem estar, já eu contribuir para o bem estar dos outros é outra conversa. Vai daí o que não falta é criatividade para criar impostos. Solidariedade forçada é que é. E quando somos obrigados à bruta a contribuir, para um sem fim de causas, já sabemos que depois não sobra nada para contribuir livremente para o que importa, não é? Enfim, adiante... 

Agora anda por aí uma coisa chamada fiscalidade verde. É assim meus senhores: não vale a pena dourar a pílula, são mais impostos e ponto final, ok? Isto do verde é muito bonito, mas não engana. Para mim verde só o Sporting, porque tudo o resto e ainda por cima quando se trata de impostos (leia-se: roubo legalizado e permitido ao Estado) é de fugir a sete pés. A perfídia da coisa chega ao ponto de justificar mais este roubo com a possibilidade de contribuir para a redução do IRS. Mas que bem! Pagamos mais de um lado porque nos sobra mais do outro. De génio mesmo. Será o nosso Ministro do Ambiente um infiltrado da Greanpeace?!

Para ajudar à festa querem-nos obrigar a sustentar uns artistas que ninguém ouve, vê ou lê, à pala dos telemóveis, pen-drives e discos rígidos que compramos para uso pessoal. Corrijam-me se estiver enganado, mas ainda não mudámos o nome para República Socialista Portuguesa. Já chegámos a Cuba?! Tá tudo doido, só pode. Não vendem as suas "obras"? Azar, já nos faltava sustentar a falta de talento. Mas doravante vamos sustentar com taxas e taxinhas tudo o que ficar sem sustento? No mínimo demente.

Como cereja no topo do bolo temos uns descerebrados com dinheiro e tempo livre a mais e cérebro a menos, já ali ao virar da esquina, a criar uma coisa "gira" chamada Estado Islâmico, a ameaçar atear fogo ao mundo e cujo principal passatempo é degolar pessoas. Dizem ainda que reivindicam uma coisa chamada Al-Andaluz, que só por acaso é a nossa casa, coisa de menor importância, pois o que realmente importa para a nossa imprensa é o romance do Fábio e da Ângela, dois lindos pombinhos jihadistas lusos, que levam a língua de Camões, mais umas quantas armas e bombas, à Síria. Ah e detestam o ocidente, mas não dispensam pepsi e nutella... A nutella senhores.
Ou os nosso jornalistas nos tomam todos por parvos ou são uma cambada de incompetentes, pois é frustrante ter que recorrer à imprensa estrangeira para perceber algo deste imbróglio no Médio Oriente. Mas o que povo é que é ignorante e não se interessa, não é?

Isto só como pequena amostra do que quero dizer, porque os exemplos são infindáveis, mas que somos um país único lá isso somos. Conseguimos ser surreais, dementes, deprimentes e divertidos ao mesmo tempo. Um verdadeiro estudo de caso.

segunda-feira, 15 de setembro de 2014

Então, gostaste de estar em Angola?

Deve ser a pergunta que mais ouço desde que regressei já lá vão seis meses. A resposta contudo, para quem lá passou uns bons anos, surpreende: não.
Gostei de Angola, mas não gostei de estar em Angola. Confuso? Tentemos de outra forma: o saldo da experiência foi positivo, mas não gostei de viver em Angola. A experiência global é francamente positiva, ganhamos uma "bagagem" que jamais ganharemos em Portugal, a experiência profissional é extremamente gratificante e compensadora, mas estar e viver em Angola é desgastante, é cansativo, esgotante mesmo. É um país perito em mostrar-nos que aquela não é a nossa casa, começa logo em Portugal com a aventura do visto (há sempre um papel pedido a mais, que não está nos requisitos no site do consulado, porque é uma "exigência" nova ou o "sistema mudou") e prolonga-se pelas pequenas experiências vividas no dia-a-dia de Luanda e na sua agressiva realidade. O Angolano até é um povo afável, divertido até mais não e que nunca perde a esperança num futuro melhor (aqui temos muito a aprender com eles!). Mas o dia-a-dia é uma luta constante, contra o trânsito, contra a falta de energia eléctrica, contra a falta de água, contra a falta de educação, contra a falta de recursos, contra muitas vezes não sabemos o quê ou quem pois só só sabemos que as coisas não acontecem, mas não sabemos porquê! É o sistema que falta, é o chefe que não está, é o papel que está mal e ainda falta outro papel, é o colega que assina que está preso no trânsito, é porque quem trata disso está incomodado (doente) e não veio trabalhar, é a lei que mudou, enfim qualquer coisa serve, ao ponto de também virmos de lá pós-graduados em desculpas para não fazer nenhum. Cada objectivo alcançado é uma conquista enorme, porque as coisas só acontecem com muito esforço, com muito suor, contra muita contrariedade apenas porque sim...
Mas é tudo isto que nos molda e nos faz crescer. Muito mau mesmo é termos sempre a sensação que não pertencemos ali, que estamos desfasados, que estamos a mais. Mau mesmo é ter sempre uma constante sensação de insegurança. Mau mesmo é ser assaltado mais que uma vez à porta da própria casa à mão armada. Ou ser assaltado mais que uma vez à mão armada enquanto conduzia (uma merda de um Suzuki Jimny, talvez porque o condutor tem uma cor, pois ao lado estava um BMW X5 com um condutor de outro tom de pele a exibir o relógio dourado). E péssimo, pior que isto tudo, é a polícia não estar lá para ajudar, mas apenas para tentar encontrar mil e uma formas de nos sacar uns dólares cada vez que nos manda encostar, ao ponto de não sabermos a quem recorrer em caso de necessidade.
Deixemo-nos de hipocrisias e coloquemos as coisas em pratos limpos: se os rendimentos em Portugal fossem o dobro dos actuais ninguém (ou quase) estaria em Angola. Esta é a verdade nua e crua. "Mas estiveste lá sete anos", afirmam depois as pessoas; pois estive, pois estive... E porque terá sido? Mas, atenção, também digo o inverso: fosse Luanda mais segura, organizada e com mais recursos e já se tinha dado aqui uma debandada geral!

sábado, 13 de setembro de 2014

Coisinhas boas do Alentejo: o regresso do Tomba Lobos


A melhor notícia gastronómica para o Alentejo aconteceu neste Verão: o melhor restaurante da região - o Tomba Lobos - reabriu. Depois de encerrado em finais de 2012 em boa hora o Chef José Júlio Vintém decidiu, depois de uma breve estadia no Brasil, regressar à terra natal e reabrir o Tomba Lobos. E que reabertura...
É um regresso, literalmente, às origens, pois deixa o anterior espaço no centro de Portalegre para voltar à casa original na Pedra Basta, em plena encosta da Serra de S. Mamede. Pessoalmente gostava mais do espaço anterior, mais moderno, um tanto ou quanto cosmopolita, quiçá até em demasia para o Alentejo, mas, enfim, gostos são gostos e o novo espaço é mais rústico, e acorde com a região, mas não sem bom gosto. Mas o que importa o espaço quando a cozinha e o talento do Chef estão ainda melhores? Era difícil melhorar o que já era excelente, mas José Júlio conseguiu e a sua cozinha está simplesmente soberba; é tradição Alentejana pura e dura, mas sempre com um toque pessoal único, chegando por vezes a dar-se ao luxo de "desconstruir" certos pratos à sua essência. Prove-se o soberbo focinho de porco no forno (há pouco tempo atrás teriam que me pagar para comer isto!) ou as genialmente simples pétalas de toucinho, para perceber onde quero chegar. Há espaço para a perdiz, a fraca, o pato, o porco preto, a vitela maturada e até o achigã; aqui a matéria prima é rainha, os petiscos alentejanos mandam na carta e o talento do Chef trata do resto. E os vinhos, como não podia deixar de ser, acompanham, com uma carta recheada de qualidade, mas ainda assim a necessitar de um pouco mais de variedade; nas minhas duas visitas "marchou" o excelente Terras d'Alter Reserva Tinto 2011.
O Tomba Lobos evoluiu de forma surpreendente e conseguiu o impensável, melhorou o que era quase perfeito, subindo um degrau na excelência da gastronomia Alentejana. O Lobo está em grande e continua o melhor.

terça-feira, 26 de agosto de 2014

sexta-feira, 22 de agosto de 2014

Novas da República Socialista Portuguesa

Só o título já dá arrepios: "Taxa sobre sobre telemóveis e tablets avança para garantir direitos de autor."

"A nossa estimativa é que as receitas [provenientes desta taxa] variem entre os 15 e 20 milhões de euros, e está prevista uma distribuição dos montantes" pelas entidades gestoras dos direitos de autor, disse Jorge Barreto Xavier, secretário de Estado da Cultura.

Ler notícia aqui.

Parece notícia da extinta União Soviética, mas não, é mesmo o esplendoroso socialismo "equitativo" luso.

Passo a passo, tranquilamente, lá vamos trilhando o caminho para a servidão.
Depois queixem-se e digam que não foram avisados.

sábado, 26 de julho de 2014

Uma tragédia elvense

A recente telenovela na Câmara Municipal de Elvas será, até agora, o ponto alto de uma tragédia que (des)governa Elvas há duas décadas.
Estava à vista de todos que Rondão Almeida, personagem egocêntrica até mais não (basta ver a quantidade de placas com o nome do sujeito), não abdicaria do poder que exerce há vinte anos, a dúvida de todos era se Nuno Mocinha seria apenas um testa de ferro, uma mera marioneta para ocupar uma cadeira. A resposta foi contundente e clara: "Não fui eleito para presidente de fechada". E a meu ver uma excelente e necessária resposta. Chega de Rondão Almeida. Basta.

Há muito se vê que Rondão não dá mais, aquilo é e será sempre o mesmo: betão, festas e festarolas, betão, excursões e almoçaradas para idosos, betão e porcos no espeto para inaugurar cada passeio ou nova rotunda, sempre com a sua brigada do reumático atrás a bater palmas e fazer vénias ao novel comendador. Tudo isto pago com nossos impostos, à taxa máxima, como não podia deixar de ser.

Durante duas décadas esta política secou a economia privada, castrou a iniciativa, vergou os interesses à política e limitou as liberdades individuais. Uma Câmara rica, uma cidade pobre e miserável. Um quinto dos seus cidadãos está no desemprego, um terço vive de apoios sociais, o rendimento per capita é o mais baixo das cidades alentejanas.
Por tudo disto devíamos perguntar: como é possível o sujeito ainda merecer votos? A resposta, contudo, é fácil e dolorosa, basta atentar que foram políticas dirigidas à maior fatia da população: os idosos. No entanto outra pergunta intriga: como podem bater palmas a políticas que expulsam os seus filhos e netos em busca de melhor sorte?! Infelizmente, numa cidade com um tecido socio-económico frágil e de parcos recursos, haverá sempre quem se sujeite a trabalhar por uma migalha. É o socialismo em todo o seu esplendor. A miséria como forma de submissão.

Por isso o tempo urge para mudanças fulcrais na política elvense. É tempo de começarmos a pensar como vamos pagar no futuro a manutenção de tanta infraestrutura, de analisar o retorno de tanto investimento, de tanta obra de utilidade mais que duvidosa para a cidade. Com uma economia anquilosada e esclerosa é impossível garantir a sustentabilidade de Elvas. A CME não pode continuar a ser a maior entidade empregadora do concelho. Já chega de termos toda uma cidade de mão estendida à caridade da Câmara e ao ego de Rondão Almeida.

Por tudo isto espero que Nuno Mocinha termine o que iniciou, mostre como é diferente e nos livre desta tragédia anunciada.

terça-feira, 22 de julho de 2014

A ignorância da AICEP sobre Angola

No Dossier que o Expresso esta semana dedica a Angola está um entrevista a Miguel Frasquilho, novo Director da AICEP, onde o mesmo dá uma monumental calinada, daquelas inadmissíveis para o cargo que ocupa e pelas consequências que acarreta.

Diz a certa altura, a propósito da nova pauta aduaneira de Angola, que “o vinho não tem qualquer tarifa”. Das duas uma: ignorância ou mentira propositada.

O Vinho paga 30% de direitos aduaneiros, 30% de imposto de consumo e leva ainda com uma sobretaxa de 1%, a qual incide sobre todos as bebidas alcoólicas. Para não falar que ainda existe o custo da inspecção local, feita pela Bromangol, no valor de cerca de 2.800,00 USD.

Não haverá na AICEP quem faça o trabalho de casa?!

sexta-feira, 11 de julho de 2014

Timing BEStial

Serei só eu a ver uma enorme coincidência no timing entre a saída da troika e o trambolhão do BES?

Não acredito em bruxas, mas...

E já nem pergunto o que andaram cá a fazer três anos para ninguém ter olhado com olhos de ver.

segunda-feira, 9 de junho de 2014

O regresso à boa mesa

Regressar de Angola é, além de muitas outras coisas fantásticas, regressar à boa mesa como só o nosso país tem.
Para dar as boas vindas a Lisboa decidimos conhecer o Assinatura, que há muito fazia parte da nossa wishlist, mas infelizmente nunca se tinha proporcionado. E valeu bem a pena. Espaço moderno, simples e elegante, atendimento cordial e simpático e uma cozinha tradicional com pinceladas de modernismo. Quanto a vinhos é simplesmente correcto, já que pode melhorar imenso a oferta, a qual prima pela qualidade, mas não pela diversidade.

Perto de casa também foi tempo de matar saudades de nuestros hermanos. O Crisol continua a fazer as melhores tapas de Badajoz e arredores; eles chamam-lhe tapas, mas a qualidade, a dedicação e a apresentação que a equipa coloca no que faz é digno de um restaurante de topo.
O El Sigar continua a ser uma aposta segura para quem quer conhecer uma cozinha de autor com imensa qualidade. Tem umas entradas fantásticas onde a originalidade é rainha e a partir daí é seguir em frente pois tudo vale a pena. A carta de vinhos é generosa com muitas e excelentes ofertas para quem quer conhecer o que melhor se bebe na estremadura espanhola.
Mas o trono continua a ser ocupado pelo Galáxia. Aqui tratam-se as carnes como em mais lugar nenhum. Ponto final. Não há cozinha de autor ou sequer originalidade, mas  a qualidade da matéria prima roça a perfeição. Aqui come-se soberbamente bem. E os vinhos acompanham, com qualidade e variedade, onde também cabem alguns dos nossos exemplares.

Já no Alentejo foi tempo de rumar a casa, mais concretamente ao Pompílio, na aldeia de São Vicente, em Elvas. Actualmente não receio dizer que é o melhor da cozinha alentejana. Desde os pratos tradicionais, à caça (que é rainha e senhora da ementa), aos vinhos (com uma imensa variedade de Alentejanos), ao espaço e atendimento da equipa, tudo aqui vale a visita.
Mas o melhor foi mesmo na Cadeia Quinhentista em Estremoz, onde um simples lanche que começou às 19.00h se prolongou noite fora num magnífico jantar até bem para lá da meia noite. Já não íamos há algum tempo pelo que foi com agrado que fomos recebidos, o que proporcionou muita coisa boa na mesa e no copo. Sem duvida para repetir e recomendar!

É caso para dizer que sabe bem regressar a casa...


sábado, 3 de maio de 2014

Sinal de vida

Passo apenas para dar sinal de vida e informar que não desapareci. Simplesmente estou a readaptar-me à vida na Lusitânia, que isto de estar tantos anos fora tem muito que se lhe diga...

Vida nova, cidade nova - Lisboa está gira e recomenda-se apesar da falta de tempo para a conhecer melhor - e país velho, mas aos poucos a coisa vai lá.

Quando estiver plenamente acomodado e com mais disponibilidade passo aqui mais vezes para mandar uns bitaites.

domingo, 30 de março de 2014

Vinhos do Mundo (1º)


Basangus Crianza 2009
(Espanha)

Quem diria que o lugar cimeiro seria ocupado por um exemplar da região considerada, até há bem pouco, o patinho feio de Espanha? A Ribera del Guadiana evoluiu bastante nos últimos anos e como prova este dos seus ex-libris dá-se ao luxo de ser um dos melhores não só da região, mas do país.
Confesso que quando o provei não me deslumbrou de todo, mas deixou-me curioso e dei-lhe uma segunda oportunidade e uma terceira e uma quarta, até que se tornou um dos habitues cá de casa (heresia! blasfémia!). É um vinho que se vai revelando aos poucos, a cada prova mostra algo novo, mostrando-se um Tempranillo (ou Aragonez para nós) complexo, profundo, guloso mesmo, com a madeira em perfeito equilíbrio com a fruta.
Um excelente vinho em qualquer parte do mundo.

domingo, 23 de março de 2014

Vinhos do Mundo (2º)


Santa Helena Gran Reserva Pinot Noir 2007
(Chile)

O Chile foi mesmo uma grande surpresa, sendo o único a repetir duas entradas desta lista.
Não era grande admirador da Pinot Noir, mas esta Gran Reserva 2007 da Santa Helena conquistou-me definitivamente. Quase licoroso, mostra fruta vermelha madura, morangos, ameixas, passas e frutos secos. Cai tão bem que a ultima garrafa que abri desapareceu já a refeição tinha terminado, foi quase a sobremesa. Definitivamente rendi-me ao Chile.

quinta-feira, 20 de março de 2014

A última noite em Luanda?

À hora que escrevo esta linhas faltam pouco mais de 24 horas para deixar Angola. Parece que foi ontem aquele 14 de Abril de 2007 em que aterrei em Luanda pela primeira vez...
Uma certeza: sai uma pessoa muito diferente daquela que aqui chegou. Tive muitas e variadas experiências e vivências, do pior ao melhor. Mas para já levo comigo o calor, o cheiro da terra, as praias da ilha, o mufete, o calulu, a moamba, as zungueiras, que calcorreiam incansavelmente as imensas ruas de Luanda, os candongueiros, que na sua temerária condução transportam a vida pelas veias da cidade; levo o Kinaxixe, a Mutamba, as Ingombotas e o Miramar; levo esta imensa Luanda que foi minha casa emprestada ao longo destes anos.
Estarei eternamente grato a este povo, o que aqui aprendi não tem preço e tive a oportunidade que faltou no meu país. Angola marca-nos, a ferro mesmo, mas para já é hora de seguir em frente, virar a página e regressar a casa. No Alentejo o chamamento da nossa terra é demasiado forte. Saudades para já só da planície alentejana, apesar de dizerem que quem bebe a água do Bengo já não deixa Angola... Ou será Angola que não nos deixa?

domingo, 16 de março de 2014

Leitura do dia

"Que la unica finalidad por la cual el poder puede, con pleno derecho, ser ejercido sobre un miembro de una comunidad civilizada contra su voluntad, es evitar que perjudique a los demás. Su proprio bien, físico o moral, no es justificación suficiente. (...)
La única parte de la conducta de cada uno por la que él es responsable ante la sociedad es la que se refiere a los demás. En la parte que le concierne meramente a él, su independiencia es, de derecho, absoluta. Sobre sí mismo, sobre su proprio cuerpo y espíritu, el individuo es soberano. (...)
La unica libertad que merece este nombre es la de buscar nuestro proprio bien, por nuestro camino proprio, en tanto no privemos a los demás del suyo o les impidamos esforzarse por conseguirlo."

John Stuart Mill, Sobre la Libertad
Edição Alianza Editorial (Madrid, Espanha), 2011
Tradução: Pablo de Azcárate

sábado, 15 de março de 2014

Vinhos do Mundo (3º)



Penfolds Thomas Hyland Shiraz 2005
(Austrália)

A longínqua Austrália era a região que mais curiosidade e expectativa me criava e que grande vinho para primeira experiência!
Com 8 anos em cima este Sirah (ou Shiraz) estava simplesmente soberbo.
Escuro, potente, envolvente, com um final prolongado a evidenciar especiarias e fruta, lá mesmo no fim a mostrar a madeira onde estagiou 12 meses. A julgar por este exemplar a Austrália faz justiça à sua fama de grandes Sirahs.

sábado, 8 de março de 2014

Vinhos do Mundo (4º)

Casillero Del Diablo Reserva Shiraz 2011
(Chile)


O Casillero del Diablo é o vinho mais emblemático e conhecido do Chile.
Tem uma das melhores relações preço-qualidade que se pode encontrar e mesmo não sendo um vinho excelente consegue, mesmo assim, deslumbrar.
Cantam-se loas pelo mundo ao Cabernet Sauvignon (a minha embirração), mas foi este Sirah (ou Shiraz como se diz lá fora) que me cativou. Ao mesmo tempo simples e complexo, tem fruta vermelha, cacau, café e especiarias, tudo envolto numa delicada madeira. Como um bom Chileno é suave, envolvente e de taninos agradáveis. Um grande vinho.

sexta-feira, 7 de março de 2014

Completamente viciado em "vacinas"


É assim mesmo. Há imenso tempo que não acontecia, mas desta vez bateu-me mesmo.
Há cerca de um ano que estes rapazes rodam e rodam e voltam a rodar no ipod, e não há forma de me cansar de os ouvir. ""What did you expect from The Vaccines" é um grande, enorme mesmo, disco de pop-rock; atrevo-me a dizer que desde os Stone Roses que Inglaterra não ouvia uma estreia deste calibre. O segundo disco "Come on Age", de 2012, também é bom, mas este é simplesmente excelente.
Ouça-se como exemplo "Norgaard", a perfeição pop resumida em pouco mais de minuto e meio; ou "Blow It Up", hino pop como há muito não se fazia. Melhor: ouçam tudo! Não se arrependerão.

quarta-feira, 5 de março de 2014

Não há quem exporte pires e limas?

"o Governo fez aquilo que pôde durante estes últimos dois anos e meio, para que esta medida entrasse em vigor o mais tarde possível e para que os próprios empresários pudessem adaptar os seus modelos de negócio a esta circunstância. O que é importante é que os empresários portugueses sintam que o Governo continua ao lado deles em Angola, apoiando-os não só nas atividades exportadoras, mas também em projetos de investimento que queiram concretizar."

E assim com aparentes boas intenções (aquela de "o Governo fez aquilo que pôde" é de ir às lágrimas) se despreza completamente o trabalho árduo que é, de há anos a esta parte, diariamente desenvolvido pelas milhares de empresas portuguesas que labutam em Angola.
É para isto que temos Ministro da Economia?! Valha-nos Nossa Senhora!

Se quiserem ler no Expresso o resto das banalidades é seguir este link.

Exportar para Angola: nova pauta aduaneira

Finalmente é chegada a hora da verdade: a versão mais recente da Pauta Aduaneira de Angola entrou em vigor no passado dia 1 de Março.

Deixo aqui o link com o ficheiro em PDF para consulta dos interessados.

domingo, 2 de março de 2014

Vinhos do Mundo (5º)



Bellingham Cabernet Sauvignon 2009
(África do Sul)

Os vinhos Sul Africanos, por norma, são fortes, potentes, para homens de barba rija; a juntar a isso tenho uma especial embirração com a Cabernet Sauvignon, no entanto este Bellingham foi uma das mais gratas surpresas que já tive.
Tem as especiarias típicas dos Sul Africanos, assim como a madeira onde estagiou 12 meses, mas também nos dá fruta vermelha, madura, um fantástico aroma e taninos suaves, ao ponto de fechar os olhos e por momentos me transportar para o Alentejo. E tudo isto só pode ser muito bom.

Acabaram-se as crónicas além Tejo...

...pois em breve passarão a ser escritas à beira Tejo. Pois é, passados sete anos em Angola, aqui o escriba está de malas aviadas para Portugal, mais concretamente para Lisboa.
Um novo projecto, uma nova cidade, um novo capítulo que iniciamos.
Foram sete incríveis anos em Luanda, uma cidade que jamais esquecerei, seja pelas coisas boas seja pelas más. Não tenho dúvidas que deixo uma parte de mim em Angola, à qual muito fico a dever por tudo o que me deu, mas o regresso esteve sempre presente na minha mente, todos e cada um destes anos. Não há como a nossa casa, não há como o meu país.
Muitas coisas ficaram por escrever, muitas histórias de Angola ainda por contar, que a seu tempo, certamente, verão a luz do dia. Para já é hora de regressar a casa, depois logo se vê.

domingo, 23 de fevereiro de 2014

O auto-plágio ou génio incompreendido do Quesado

Bem me parecia que havia algo de errado neste texto de Francisco Jaime Quesado; era muito palavreado e pouco sumo.
Quem topou mesmo a figura foi o José da Porta da Loja, quando em 2012 leu uma crónica no i que era praticamente um copy-paste de uma outra publicada no Público em 2010. Em 2014 repete o sermão desta feita no Diário Económico. É obra! Das duas uma: o Sr. Quesado é um génio incompreendido que acredita piamente nas suas palavras e vai de nos metralhar com a mesma cassete, ou não sabe mais e toca de se auto-plagiar.
Este senhor andou por uma CCDR, faz parte de um grupo para a inovação e não sei mais o quê e parece que é um dos elegíveis para o IAPMEI. Sem mais comentários...

sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

Uma verdade (in)conveniente

"Por isso é necessário esclarecer que não, a via seguida por Gaspar – e apoiada por Passos Coelho – não era a única via possível. Não, não estamos condenados a uma carga fiscal imoral e crescente; simplesmente temos tido governantes que não sabem fazer outra coisa se não inventar despesa e aumentar impostos. Não, não houve e nem sequer foi tentada qualquer reforma do estado que permitisse diminuir despesa de forma estrutural. Apenas se encolheu (e em alguns lados) o bolo disponível, deixando a estrutura montada para que volte a crescer em futuros tempos de vacas gordas."

Por Maria João Marques via Insurgente.

domingo, 16 de fevereiro de 2014

Vira o disco e toca o mesmo...

Julgava eu que depois de três falências, passadas durante quarenta anos com uma pseudo-liberdade sujeita às vontades dos nossos governantes, tivéssemos aprendido algumas lições e Portugal viesse a ser aquilo que os Portugueses dele fizessem com as suas escolhas individuais. Julgava eu que tivesse chegado a hora de cada um contribuir com o seu grãozinho de areia para um país melhor.
Mas não. Abro o Diário Económico e dou de caras com um artigo de opinião, de um Sr. Francisco Jaime Quesado, apregoando a boa nova de um "Portugal Industrial"

"Falta em Portugal um sentido de entendimento colectivo de que a aposta nos factores dinâmicos de competitividade, numa lógica territorialmente equilibrada e com opções estratégicas claramente assumidas é o único caminho possível para o futuro."

O que é isto significa? Nada. Zero. Apenas que o país continua pejado de burócratas que nos querem impor a sua ideia para o país. Julgava eu que fartos de entendimentos colectivos andávamos nós. Para quando entendimentos individuais? Quando é que o entendimento individual dos portugueses se irá sobrepor ao entendimento colectivo de um burócrata qualquer? Há séculos que andamos nisto! Já foi a agricultura, depois os serviços, agora é a vez da Industria.
Quando é que deixaremos de ter iluminados com planos para o país e deixamos que este seja aquilo que nós dele fizermos em plena liberdade de escolha? Portugal jamais progredirá enquanto não for aquilo que cada Português dele faça, com aquilo que cada um de nós dele e para ele deseja.
Uma vez toda a gente erra, duas tem desculpa, mas há terceira é já incompetência ou burrice. Deus nos salve de uma quarta...

domingo, 9 de fevereiro de 2014

Vinhos do mundo


Mais tarde ou mais cedo tinha de acontecer. A curiosidade é mais forte e quem tem uma paixão quer explorá-la plenamente, por isso é oficial: sou um blasfemo e herege que bebe e aprecia outras latitudes.
Defensor apaixonado dos vinhos alentejanos, que considero, cada vez mais sem sombra de dúvidas, os melhores do mundo, resolvi conhecer o que se bebe por esse mundo fora. O facto de morar paredes-meias com nuestros hermanos ajudou, pelo que aqui há uns anos já tinha provado alguns dos seus exemplares, mas infelizmente a coisa não correu lá muito bem, era difícil encontrar boa pinga; hoje o panorama é diferente e o patinho feio que era a Extremadura/Ribera del Guadiana tem alguns dos melhores néctares do país vizinho.
Do outro lado Angola foi o empurrão desta descoberta. Quando cheguei a Luanda, há sete longínquos anos, os únicos que conseguíamos encontrar eram Monte Velho e o (intragável) Porca de Murça. Hoje o cenário é completamente diferente, o mercado evoluiu, é mais cosmopolita, pelo que, apesar dos alentejanos dominarem, nos melhores supermercados e restaurantes da cidade encontramos grandes vinhos de latitudes tão díspares como a África do Sul, Austrália, Chile ou Estados Unidos. Como o preço dos mesmos fica bem abaixo dos meus conterrâneos alentejanos (porque será?) um tipo pensa: e porque não?
Destes países vêm alguns dos néctares que aqui apresentarei numa série dedicada ao tema.

Imagem: vinhas na região de Stellenbosch na África do Sul (via wikipedia).

sábado, 8 de fevereiro de 2014

Leitura recomendada

Um dos imprescindíveis da blogosfera nacional encerrou portas recentemente, mas felizmente ele aí está de regresso, desta feita a Alqueivar.

Passem pela nova casa do Daniel Santos, que vale bem a pena.

domingo, 2 de fevereiro de 2014

Ainda sobre as praxes

Como liberal, que tem a dignidade da pessoa humana como valor supremo, sou totalmente contra.
São uma idiotice pegada, sem sentido algum, completamente retrógradas e ridículas. Vou ainda mais longe: são elas uma das maiores causas para a falta de espinha dorsal do povo português. Como é possível pessoas adultas, no auge das suas capacidades intelectuais, sujeitarem-se a tamanhas figuras tristes, ao ridículo, a humilhações físicas e psicológicas, apenas pela vã promessa de pertencerem um dia a uma casta superior na hierarquia social? São tradição, são divertidas e tal... Não me venham com merdas, pois há formas mais civilizadas de receber um caloiro na universidade! Mas pior, mesmo, não é haver quem as pratique, mas quem a elas se sujeita.
E assim temos o povo português, guiado por tais elites, sujeito pela vida adiante a paulada atrás de paulada, sacrifício atrás de sacrifício, pela vã promessa de um dia pertencer a um grupo superior.

domingo, 19 de janeiro de 2014

Mais leitor que escrevinhador

Não tenho tido a vontade, nem a inspiração para escrever seja o que for, sobre aquilo que for. Há fases assim. A realidade, esta realidade, que eu vivo e conheço há sete anos já não me surpreende, já não me fascina, já não a consigo descrever e viver com aquele misto de choque e deslumbramento de quem acaba de chegar. Pura e simplesmente já me satura. Sete anos é muita coisa para quem julgava ficar apenas dois ou três.
Do outro lado a outra realidade, não uma qualquer alternativa mas aquela que apenas vivo pela televisão, imprensa, blogues ou nas minúsculas férias trimestrais é demasiado surreal para escrever algo sensato sobre ela. Afinal que mais há a acrescentar ao que já se disse e escreveu sobre um país governado há quarenta anos por um grupinho de incompetentes?
Por isso leio mais que escrevo. A leitura sempre foi o meu refúgio. E nestes tempos de incerteza muitas são as obras por terminar ás quais regressei. Sou incapaz de ler um livro de cada vez e por isso "A Riqueza das Nações" de Adam Smith, As Lições de Peter Drucker, "Da Liberdade de Pensamento e de Expressão" de John Stuart Mill, "Common Wealth" de Jeffrey Sachs, "Sôbolos Rios que Vão" e "Memória de Elefante" de António Lobo Antunes ou "A Toupeira" de John Le Carre são alguns dos que hoje em dia de acompanham, juntamente com os blogues que constam na barra aí do lado direito.
Por isso não estranhem a ausência de escritos por aqui, a gente vê-se por aí e vamos trocando impressões algures; e alguma coisa sairá destas teclas, nem que seja a conta-gotas.

sábado, 11 de janeiro de 2014

O sigilo profissional do Fisco elvense (ou a falta dele)

Como zeloso cumpridor das minhas obrigações fiscais guardei o ultimo dia do ano, que me encontraria em em Portugal, para liquidar o imposto que o Estado me cobra por ser possuidor de um veículo automóvel, assim dia 27 de Dezembro lá me dirigi aos serviços de finanças de Elvas. Eu e mais uma catrefada de gente, como é óbvio, pois é mais que conhecido o gosto dos Portugueses pelo fim dos prazos do que quer que seja.
Ora estava eu descansadinho da vida, sentado, à espera que o monitor anunciasse o número da minha senha quando de repente começo a ouvir alguém a anunciar quantias monetárias, que, descobri de imediato, nada mais eram que os valores a pagar pelo contribuinte que se encontrava ao balcão no respectivo momento. Volta e meia além da quantia a voz ainda anunciava uma multa por pagar, uns juros, uns valores em atraso, etc. Chegada a minha vez até fiquei a saber que era bom que apenas pagasse o equivalente ao número da minha senha, mas infelizmente era muito mais... Eu e toda a sala ficou a saber. E tudo graças ao magnífico timbre de voz dos zelosos funcionários do fisco de Elvas. O que cada um paga, o que deve, quanto deve e o que mais houvesse. Isto é, no mínimo, uma tremenda falta de profissionalismo e, no máximo, uma total falta de vergonha na cara e respeito pelos outros. Nós sabemos que os funcionários das finanças sabem, mas escusavam que o mostrar e dar a conhecer aos outros.
Todos sabemos que Elvas é uma cidade pequena, onde todos se conhecem, mas (e ainda que assim não fosse) por isso mesmo não se pode faltar ao respeito e invadir dessa forma tão escabrosa a privacidade de cada um, ainda por cima num tema tão particular como os impostos que cada um paga ou deve. Foi um triste espectáculo ao qual não consegui ficar indiferente, pelo que fica o reparo e o apelo a que alguém ensine para aquelas bandas o que é o chamado "sigilo profissional".