quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

A caminho da Lusitânia (que é como quem diz de férias!)


(Imagem via net)

Amanhã é dia de fazer as malas e rumar a casa para mais umas, mais do que merecidas, férias nas plácidas planícies do Alentejo.
Foi um ano deveras difícil, pois Angola não é imune a crises, com muito trabalho, imensos desafios, mas extremamente gratificante pelas conquistas e vitórias alcançadas. Estou com o cérebro em piloto automático tal o cansaço que carrego, mas extremamente satisfeito pelo trabalho reconhecido, já que todos os objectivos foram ultrapassados. Aqui o mérito ainda é recompensado. O ano que vem promete e se Deus quiser aqui estarei para o comprovar. Mas até lá, como diria o outro, estou-me marimbando para a economia, para a política, para a crise e afins. Nestes quinze dias quero é saber do bacalhau com todos, do vinho tinto, das filhoses e do bolo rei, saboreados partilhando uma lareira na companhia daqueles que nos são mais queridos. Portanto até Janeiro esta casa está fechada.
Ao contrário do nosso Presidente, como sou exigente, não quero um 2012 tão bom quanto possível, portanto a todos os portugueses, onde quer que se encontrem, desejo um Santo Natal e excelente Ano Novo!

domingo, 18 de dezembro de 2011

Passos Coelho quer professores portugueses nos musseques?

Passos Coelho continua a mostrar que é tão sincero quanto ingénuo.
A recomendação para os professores emigrarem faz todo o sentido, mas daí a sugerir Angola é um passo para a idiotice, pois só quem não conhece a realidade pode sequer imaginar tal coisa.
Para quem quer ter uma imagem da escola pública angolana pode ler esta notícia.
Pode-se argumentar que existem privados. Pois existem. Mas duvido que a Escola Portuguesa, o Colégio Português ou o Colégio São Francisco de Assis tenham vagas para tanto professor.
A não ser que o actual PM esteja a seguir a ideia de José Sócrates enviar 200 professores para Angola, que ainda não chegaram. Eles depois que se desenrasquem a pagar 3 mil dólares de renda mensal, a comprarem o gerador para terem luz, a electro-bomba para a água ou a deslocarem-se numa cidade sem transportes públicos...

No coração das trevas

"La República Democrática del Congo (RDC) ha sido llamada “la capital mundial de las violaciones”. Diferentes estudios y estadísticas arrojan números difíciles de comprender. Cuatro mujeres violadas cada cinco minutos según uno publicado en junio por el American Journal of Public Health, que afirmaba que se producían unas 400.000 violaciones al año."

"Sólo este centro en Goma sigue recibiendo entre una y cinco víctimas al día, más de 1.000 desde marzo de este año. La mayoría son chicas de entre 12 y 16 años, aunque ha habido casos de niñas de 3 años violadas."


Ainda hoje ecoam as palavras de Kurtz proferidas na foz do Congo: "O horror! O horror!"
Até quando?

sábado, 17 de dezembro de 2011

Angola e o El Dorado ou como o disparate continua

Depois de durante anos a fio nos andarem a vender Angola como o El Dorado, até que deixaram um calote de 9 mil milhões de dólares só às construtoras, são agora nuestros hermanos a juntarem-se à festa e a publicitarem tal ideia no El País.
Ou as noticias chegam tarde a Espanha ou estes descobriram uma nova galinha dos ovos de ouro com a qual esperam trocar mil milhões de dólares, pois nesta altura do campeonato já todos sabemos que não há El Dorado algum, muito menos em Angola. O crescimento a dois dígitos é aliciante, os recursos abundantes, a necessidade de mão de obra é imensa, está quase tudo por fazer, mas prudência e caldos de galinha são o melhor remédio; não há dúvida que esta é uma terra de oportunidades, milhares de jovens, como eu, encontram aqui o que lhes falta na sua terra natal, mas daí a adjectivar Angola como um pote de ouro é um disparate completo.
Até Manuel Ennes Ferreira, professor do ISEG que de vez em quando manda uns bitaites sobre África no Expresso, escorrega na casca de banana afirmando que em Angola "há dinheiro, há financiamento e está tudo por fazer". Ora o Sr. Ennes Ferreira deve desconhecer que se o Banco Nacional de Angola proibiu desde Junho os estrangeiros não residentes de efectuar operações cambiais é porque afinal não há assim tanto dinheiro. E por algo o FMI recomenda o BNA a sujeitar a banca angolana a testes de stress, como se pode ler na edição desta semana do caderno de economia do jornal O País (sem link). Já para não falar que a dívida às empresas portuguesas ainda ronda os mil milhões (e sei de muitas empresas com grandes problemas de tesouraria devido a isso).
Mas pior que tudo são as pessoas que continuam a engolir ideias como esta, como comprova uma senhora, citada na notícia, que está em vias de chegar a Angola, porque em Portugal ganha 600 euros e aqui pagam o triplo. Ou esta senhora vem para aqui com alojamento e despesas inerentes, transporte, viagens a Portugal, seguro de saúde e alimentação incluídos ou então vem muito mal paga e não sabe onde se vai meter. Antes de partir à aventura, como diz outro dos portugueses citados na noticia, há que ter sempre presente a regra número um ao vir para Angola: isto não é uma aventura e o menor erro pode ser fatal e deixar marcas profundas. Este país é para homens de barba rija e exige uma cuidada planificação. O custo de vida é o triplo do europeu, os produtos nos supermercados custam, no mínimo, o dobro e pode não haver limite, um prato do dia, no restaurante mais barato, não custa menos de 25 usd e a juntar a isso esqueça a energia eléctrica sem gerador e a água canalizada sem electro-bomba, pelo que imaginem os custos e se um destes aparelhos avariar arme-se de paciência até encontrar um bom técnico que o repare à primeira sempre com preços de 50 usd / hora. Até o Sr. Ennes Ferreira, que diz que aqui há dinheiro, reconhece que há quem deprima ao fim de uma semana porque não suporta as dificuldades do meio e que o país não é para "meninas" (seja lá o que isso quer dizer). Luanda parece que está sempre empurrar-nos daqui para fora...
Não me interpretem mal, pois não estou a dizer que não vale a pena vir para Angola, tudo o contrário, mas cuidado com o que se lê sobre o país. A minha sentença é de que vale a pena vir, mas não esperem vida fácil nem tornarem-se ricos por estas bandas como anunciam estes títulos na imprensa. Sem dúvida que se a vinda for bem planeada vale bem a pena e recompensa, mas aqui trabalha-se muito (mesmo!) e vive-se em stress constante (a pobreza que entra pelos olhos dia a dia, o trânsito, as faltas de energia, de água, os serviços lentíssimos, a ausência de infraestruturas, etc), nenhuma empresa paga 5 ou 6 vezes mais para que se tenha o mesmo ritmo de trabalho que em casa, pois um expatriado é um pesado investimento que deve dar o devido retorno, no entanto a experiência que aqui se ganha, fruto das contingências do meio, em poucos lugares do mundo se consegue. Venham, mas venham para trabalhar e se é para enriquecer nem sequer façam as malas e dediquem-se antes à política onde parece que ainda há oportunidades.
Para finalizar e mostrar a perfeita idiotice destas notícias pergunto apenas porque não se diz que França, Brasil e EUA são também o El Dorado da emigração Portuguesa? É que vendo este gráfico, sobre o destino dos nossos emigrantes na última década, Angola nem sequer é referida. Mas tem petróleo e diamantes o que deve dar azo a muita coisa...

terça-feira, 6 de dezembro de 2011

A austeridade e o "neoliberalismo"

Confesso que me sobem os calores sempre que leio alguém acusar de "neoliberal" a periferia da Europa pela austeridade aplicada que está a atirar as respectivas economias para o galheiro.
Como é possível ser "neoliberal" quando nunca se foi liberal? Acham que as economias mudam de paradigma como quem muda de camisa? Que eu saiba a austeridade está a ser aplicada por decreto, não está a surgir por geração espontânea, não há "mão invisível" alguma, aliás estão bem à vista as mãos que mexem os cordelinhos. É assim tão difícil perceber isto? E está a ser aplicada por decreto pelo mesmo motivo que os sucessivos governos socialistas do sul acreditavam que o crescimento económico também se decidia da mesma forma. Publique-se e depois logo se vê.
Foram governos socialistas que subsidiaram alguns a troco da espoliação imposta a todos, que apostaram no crescimento com o dinheiro dos outros, que metiam a mão em tudo o que luzia, que não se coibiram que misturar público e privado, que não se inibiram de criar empresas públicas com o dinheiro sugado pelos impostos aos privados para depois competir com estes, governos que assumem descaradamente o controlo de sectores fulcrais da economia dos respectivos países ao mesmo tempo que perseguem implacavelmente a criação de riqueza, pois acreditam que é a dividir que se multiplica, que prometiam um admirável mundo novo a troco de nada, feito de mera imagem, puro produto de marketing para parecer o que não se é; foram governos com prioridades como 150.000 empregos, Magalhães, SCUT's, TGV's para nenhures, aeroportos nos cus de judas, ventoinhas gigantes para electricidade mais cara, igualdade de género, abortos; governos dos direitos adquiridos sem antes conquistados e do dinheiro para cima dos problemas como solução.
Portanto, que parte do "estamos a pagar a factura a prazo deixada pelos socialistas com mais socialismo" é que ainda não perceberam? Austeridade?! O ideal seria um pouco de racionalismo, ou mesmo liberalismo, se hipótese houvesse. Mas isso seria pedir demasiado a quem acredita que o dinheiro cai do céu.

sábado, 3 de dezembro de 2011

Leitura do dia

"Nós não estamos de facto a defender a nossa política ou as nossas crenças ou mesmo a nossa maneira de viver, mas simplesmente a nossa homogeneidade contra um governo federal ao qual em puro desespero o resto deste país teve de ir cedendo uma parte cada vez maior da sua liberdade pessoal e privada a fim de permitir os Estados Unidos. E evidentemente continuaremos a defendê-la. Nós (...) não sabemos porque é que ela é valiosa. Não precisamos de saber. Apenas poucos de nós sabem que só da homogeneidade vem alguma coisa de um povo ou para um povo com valor duradouro e permanente - a literatura, a arte, a ciência, esse mínimo de governo e polícia que é o propósito da liberdade política e pessoal e, talvez o mais valioso de tudo, um carácter nacional com certo merecimento em tempo de crise (...)."

(William Faulkner, in "O Intruso")