segunda-feira, 26 de setembro de 2011

O dilema de saber mais que o chefe

“En un bar me dijeron que cómo iban a tener a un licenciado en Económicas poniendo cervezas”

"Lo que se lleva ahora es rebajar el curriculum o hacerlo desaparecer directamente si el trabajo al que se aspira lo requiere. Imprescindible no saber idiomas. Nada de esto sabe mi amigo, al que le dije que la prensa lleva publicando varios años los casos de gente que maquilla a peor su expediente para poder aspirar a seiscientos euros. Con la crisis no sólo vamos tener que trabajar más para ganar menos, sino que hay que aparentar un cierto analfabetismo, incluso en los modales."

"Qué pretendes, ¿tener más estudios que tu jefe?"


E nós por cá?

 

domingo, 25 de setembro de 2011

O que é ser Português?

Numa esplanada em Paris um turista perguntou-me se falava inglês para pedir indicações, na loja da Apple, na mesma cidade, ao pedir para me configurarem um ipod em português, perguntaram se era brasileiro, já fui recebido em dois restaurantes na minha terra natal com "buenas noches" e em Luanda já me perguntaram se falava português, o que talvez comprove, conforme escreveu Martin Page no seu livro "A Primeira Aldeia Global", que não há um estereotipo para o português típico, pois há-os altos, baixos, magros, gordos, loiros, morenos, brancos, negros, etc...
Como nos definimos então como povo? Com certeza aventureiros e inovadores, como comprova a nossa História, essa mesma História que é quase uma enciclopédia sobre crises, o que por outro lado nos revela pouco disciplinados ou metódicos, o que nos tem levado a falhar nos momentos decisivos. Mas somos únicos. Carregamos como ninguém o fardo da saudade, essa característica tão inerente à alma lusitana, talvez porque como tão poucos povos aprendemos a viver longe da nossa terra, espalhando pelos quatro cantos do mundo a nossa influência, tão discreta quanto maior do que imaginamos.
Hoje somos pouco mais de 5 milhões pelo globo, que é como quem diz metade da população residente em Portugal, ou, dito de outro modo, um terço de Portugal pisa outro solo que não o Lusitano. Ser Português? Maria José Nogueira Pinto, na sua derradeira crónica, escreveu que cedo aprendeu "a levar a pátria na sola dos sapatos". E não há fardo maior, para o bem e para o mal, de que nos possamos orgulhar enquanto povo.

Angola continua na moda

Depois da primeira grande vaga de expatriados para Angola, entre 2005 e 2008, parece que o país volta a entrar na moda para os novos emigrantes lusitanos, e a prova disso mesmo é a profusão do tema nos media (inclusive passou há dias na SIC uma peça dedicada ao tema), com direito até a publicações de guias para o efeito.
Desde o fim da guerra em 2002 o número de portugueses aqui explodiu e é interessante ver como o perfil dos mesmos tem mudado ao longo destes anos, se inicialmente este era um país para quadros experientes e aventureiros, sendo muito difícil ás empresas recrutarem para o efeito, hoje é comum vermos cada vez mais jovens, muitos deles recém licenciados. A situação do nosso país a isso obriga. Nesta fase do campeonato creio que já toda a gente sabe ao que vem, os conselhos são simples e basta ter em conta as limitações das infraestruturas do país para prevenir surpresas desagradáveis: o custo exorbitante da habitação, a (quase) ausência de transportes públicos, a falta de energia eléctrica e água potável, etc. Quanto aos empresários e investidores os conselhos são outros. Hoje a regulação financeira é muito mais eficaz, o sistema financeiro muito mais robusto, já não se enviam remessas para o estrangeiro sem justificação como há um par de anos; Angola já não é para alimentar os negócios lá fora. O mercado tem vindo a sanear-se e os players oportunistas, que por aqui proliferavam como cogumelos, têm vindo a desaparecer. O que só pode ser bom.
É comum ouvir nos media expressões como "pérola de África" ou "bom nível de vida", isso é muito bonito mas sejamos pragmáticos, afinal, no fundo tudo se resume à procura de uma melhor condição financeira, sejam empresas ou trabalhadores. A Angola de hoje não é a dos nossos avós e o "bom nível de vida" não deve ser confundido com "boa qualidade de vida", ainda falta muito para isso... No entanto o meu único conselho a quem quer vir para aqui trabalhar é não pensar apenas no dinheiro, isso aqui não serve e se assim pensa não vale a pena sequer desfazer a mala quando chegar, pois partirá mais cedo do que julga. Pensem em crescer, pessoal e profissionalmente. O que Angola vos dará, em lugar algum no mundo o conseguirão, o que aqui se aprende não vem em manuais, pois todos os dias surgem novos desafios que só aqui se aprendemos a superar. E Luanda? O Zé Maia já disse tudo: "Não se engane com o lindo nome dessa cidade. Ela vai te devorar e provavelmente te cuspir quando lhe apetecer. O pior é que você vai adorar".

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

O brinquedo de Madeira

Ainda que legitimamente se trate uma mentira que nos obriga a rever os défices legítimos dos últimos três anos.

Mesmo que pontualmente isso nos obrigue a rever os défices pontuais dos últimos três anos.

Serei só eu a pensar que esta gente julga que fala para crianças?

sábado, 17 de setembro de 2011

Sobre o desenvolvimento

No conforto do nosso mundo ocidental temos o desenvolvimento como um conceito "nosso", que define o próprio status das nações. O ocidente personifica o mundo desenvolvido e separa-o dos outros, o que leva a que quando pretendemos definir o conceito nem sequer tentamos, basta para isso apontar um qualquer país do hemisfério norte.
A experiência em África mostrou-me que um país é tão mais desenvolvido quanto mais eficaz a evitar o desperdício e a gerir os seus recursos, materiais e humanos. A pobreza aqui não é por falta de recursos, mas antes causa de um gritante desperdício. Como exemplo veja-se Luanda, servida por dois rios, o Kwanza a sul e o Dande a norte, no entanto a falta de água faz parte do dia a dia, ao mesmo tempo que é frequente vermos ruas transformadas em rios por rebentamento de condutas. A reciclagem é ainda uma miragem por estas bandas, a burocracia do país em nada inveja a lusitana e o país importa quase tudo, com um custo muito superior ao que pagaria se houvesse produção local.
Assim, os países desenvolvidos não o são por serem ricos ou seguros, mas porque são eficazes na gestão dos seus recursos; as suas economias funcionam porque se combate a corrupção, a sua justiça é célere porque não vive numa teia legislativa complexa e insensata que se adia ad eternum, as suas instituições funcionam porque não se temem as decisões urgentes e necessárias e a coisa pública limita-se ao essencial.
Nesta perspectiva, por muito que nos custe admitir, estamos ainda a uns bons passos de nos considerarmos desenvolvidos. Não basta abrir a torneira e ter água potável, electricidade 24 horas por dia, auto-estradas com fartura ou todas as criancinhas com um portátil na escola, é preciso também que a justiça seja rápida, que a corrupção seja eliminada e a burocracia reduzida ao essencial. É preciso que os nossos cidadãos sintam que vale a pena o esforço e que o mérito é premiado sem cartões de militante, ao invés de serem tratados como meros números de identificação fiscal. As empresas devem ser tidas como criadoras de riqueza ao invés de maquiavélicas organizações às quais há que dificultar a actividade com taxas, taxinhas, alvarás, licenças e o diabo a quatro. Há que acabar com as discussões à volta dos pentelhos e atacar o que realmente importa, só então seremos um país desenvolvido.
Somos, então, subdesenvolvidos? Não. Pois como dizia Peter Drucker: "não há países subdesenvolvidos, há países subgeridos".

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Acordo "histórico" entre Angola e Portugal

A serem cumpridas as medidas do acordo, supostamente histórico, entre Angola e Portugal podemos afirmar que finalmente haverá uma política séria de emigração entre os dois países, ao invés das "birras" que temos assistido nos últimos anos.
Se quanto aos vistos de curta duração o acordo é realmente sensato, e faz todo o sentido em pleno século XXI, quanto aos vistos de trabalho tenho as minhas reticências. O acordo agora assinado pressupõe vistos de 36 meses, mas, como podemos ler na notícia, isso já acontece actualmente, sendo o visto emitido por 12 meses com direito a 2 prorrogações de igual período, mas, a notícia omite o facto, pode em casos excepcionais, mediante acordo dos serviços de emigração angolanos, uma prorrogação adicional, o que eleva o total para 48 meses. O acordo actual contempla prorrogações? Com que duração? A notícia não diz.
Mas onde o jornalista comete a grande gaffe é quando afirma que a renovação é feita no país de origem, pois actualmente todos os vistos são renovados localmente no Serviço de Migração e Estrangeiros. Quanto aos 30 dias para a emissão tal já se verifica, não em todos os casos, é certo, mas em situações excepcionais pode obter-se o visto de trabalho localmente e de forma mais rápida, para actividades profissionais onde haja uma grande falta de mão-de-obra qualificada, mediante parecer favorável do Ministério da tutela da empresa contratante (para confirmar basta consultar o regime jurídico dos estrangeiros em Angola disponível aqui).
Será um grande passo em frente, num contexto onde cada um dos países precisa do outro como de pão para a boca, mas como manda a prudência devido ao palmarés no ranking burocrático de ambos os protagonistas: é esperar para ver.

sábado, 3 de setembro de 2011

Sobre a responsabilidade social das empresas

Nos dias de hoje é um dos temas da moda e parece não haver organização que não queira ser socialmente responsável, o que é um perfeito disparate.
A responsabilidade social é algo inerente à mera existência de qualquer empresa.
As empresas não são "ilhas" na sociedade, não são órgãos isolados da mesma, mas sim parte integrante de uma vasta e complexa teia de relações, pois se através das suas actividades procuram preencher as lacunas do mercado, oferecendo novos ou melhores produtos, ao mesmo tempo atribuem um valor ao trabalho dos seus colaboradores, devendo retribuir na sua justa medida, sempre respeitando as suas obrigações legais. Muito resumidamente, isto é serviço público.
Qualquer empresa que não cumpra com estes pressupostos, por muita certificação ou reconhecimento social que tenha, que é uma técnica de marketing fantástica, é pura e simplesmente irresponsável. Ponto.