terça-feira, 30 de setembro de 2014

A doença infantil do socialismo

Se há coisa que me intriga há bastante tempo é que o passa pela cabeça dos socialistas: mais concretamente o que leva alguém a ser socialista.
Se sua filosofia pressupõe o planeamento central como meio de redistribuição da riqueza, com vista ao equilíbrio social, ou seja para o combate à desigualdade, temos dois tipos entre os seus apoiantes: os que dirigem e os que se sujeitam. Daí que me pergunte que diabo leva alguém - os que se sujeitam - a escolher que outros decidam sobre o caminho da sua vida, sobre a sua pessoa, sobre os frutos do seu trabalho? E acreditam e votam devotamente em tal coisa! Como é possível abdicarem da sua liberdade?! Da mesma forma o que leva alguns iluminados - os que dirigem - a crer que conhecem as necessidades e desejos de milhares, senão mesmo milhões, de pessoas, para se advogarem o direito de decidir o que é melhor para elas? Terão super-poderes?!
A meu ver a coisa é simples: é contra-natura. Ponto. Pode ter sido uma utopia muito gira, mas não passou disso mesmo. Hoje, no séc. XXI, o socialismo é a política do "desmérito", do facilitismo, da via rápida para a ascensão social, é a forma mais rápida da plebe ascender à aristocracia infernizando pelo caminho a vida da burguesia. É a filosofia dos que que acham que o mundo tem obrigações para com eles só porque existem, eles porque existem não têm obrigações para com nada nem ninguém. É a filosofia dos que andam por cá não por ver andar os outros, mas para sugar os outros. É o egoísmo em todo o seu esplendor.
Dizem que é "humanista", que permite igualdade de oportunidades e que dá suporte aos mais desfavorecidos. Igualdade de oportunidades não é igualdade em escolhas limitadas e obrigatórias, somos todos diferentes; e quem decide quem são e como devem ser apoiados os desfavorecidos? Certamente serão os "iluminados" favorecidos pela capacidade de decidir pelo bem de uns, com o dinheiro de outros. Pois. Deve ser... E nós somos é todos parvos que ainda os aturamos.

domingo, 28 de setembro de 2014

Vinho é Alentejo (2)

(Altas Quintas Tinto 2007)

Aproveitando a onda do Alentejo ter sido há pouco eleito a melhor região vinícola do mundo para visitar, vou iniciar uma série com alguns dos melhores exemplares da região que já passaram cá por casa.

Começamos com aquele que, de fininho e sem ninguém dar por ele, passou a ser presença assídua à nossa mesa. Não há quem cá por casa não o eleja como um dos melhores e mais injustamente desconhecidos do Alentejo. Não é fácil de encontrar, mas o esforço vale bem a pena. Vem de Portalegre, é composto pela "santíssima trindade" do Alentejo - Alicante Bouschet, Trincadeira e Aragonês - possui uma harmonia e equilíbrio entre corpo, aroma e taninos à prova dos paladares mais exigentes do mundo. Obrigatório.

sábado, 27 de setembro de 2014

Leitura de fim-de-semana



"Para o homem livre, o país é o conjunto  dos indivíduos que o compõem, não algo acima e além deles. Ele orgulha-se de uma herança comum e é fiel a tradições comuns. Mas considera o Estado um meio, um instrumento, não um concessor de favores e dádivas nem um senhor ou deus que deva ser servido e idolatrado cegamente."

Milton Friedman, Capitalismo e Liberdade (1962)
Actual Editora, 2014. Tradução de Jaime Araújo.

segunda-feira, 22 de setembro de 2014

Uma cambada de socialistas

"Quando falo de normalidade digo que devemos olhar para os grandes números, não para este caso aqui, este caso ali..."

Isto não foi dito por um membro do PCP, do BE ou sequer do PS; foi dito, na semana passada, por Nuno Crato em plena Assembleia da República.

Um dos ministros mais liberais do governo mais liberal de sempre... (Não se riam porque há gente que acredita nesta idiotice).

Um governante que despreza desta forma o indivíduo, que coloca o todo acima das partes, que ignora os "casos isolados" (para usar uma expressão tão do agrado dos nossos políticos) em favor de uma "causa" ou objectivo maior, não merece os nossos votos, não merece a nossa confiança, não merece o salário que lhe é pago também pelos impostos "deste caso aqui, este caso ali".

Não passa de mais uma jarra a ornamentar a imensa galeria desta cambada de socialistas que nos (des)governa há 40 anos.


quarta-feira, 17 de setembro de 2014

Um país de telenovela

Tantos anos longe fizeram-me esquecer o quão surreal, caricato e bipolar consegue ser o nosso país. Agora que regressei tenho dias em que não sei se estou a assistir a uma telenovela de qualidade duvidosa, se a realidade é mesmo assim ou sou eu que tenho um gene à la Tim Burton que distorce tudo que vê.

Os Portugueses são uns socialistas invertidos: todos têm a obrigação de contribuir para o meu bem estar, já eu contribuir para o bem estar dos outros é outra conversa. Vai daí o que não falta é criatividade para criar impostos. Solidariedade forçada é que é. E quando somos obrigados à bruta a contribuir, para um sem fim de causas, já sabemos que depois não sobra nada para contribuir livremente para o que importa, não é? Enfim, adiante... 

Agora anda por aí uma coisa chamada fiscalidade verde. É assim meus senhores: não vale a pena dourar a pílula, são mais impostos e ponto final, ok? Isto do verde é muito bonito, mas não engana. Para mim verde só o Sporting, porque tudo o resto e ainda por cima quando se trata de impostos (leia-se: roubo legalizado e permitido ao Estado) é de fugir a sete pés. A perfídia da coisa chega ao ponto de justificar mais este roubo com a possibilidade de contribuir para a redução do IRS. Mas que bem! Pagamos mais de um lado porque nos sobra mais do outro. De génio mesmo. Será o nosso Ministro do Ambiente um infiltrado da Greanpeace?!

Para ajudar à festa querem-nos obrigar a sustentar uns artistas que ninguém ouve, vê ou lê, à pala dos telemóveis, pen-drives e discos rígidos que compramos para uso pessoal. Corrijam-me se estiver enganado, mas ainda não mudámos o nome para República Socialista Portuguesa. Já chegámos a Cuba?! Tá tudo doido, só pode. Não vendem as suas "obras"? Azar, já nos faltava sustentar a falta de talento. Mas doravante vamos sustentar com taxas e taxinhas tudo o que ficar sem sustento? No mínimo demente.

Como cereja no topo do bolo temos uns descerebrados com dinheiro e tempo livre a mais e cérebro a menos, já ali ao virar da esquina, a criar uma coisa "gira" chamada Estado Islâmico, a ameaçar atear fogo ao mundo e cujo principal passatempo é degolar pessoas. Dizem ainda que reivindicam uma coisa chamada Al-Andaluz, que só por acaso é a nossa casa, coisa de menor importância, pois o que realmente importa para a nossa imprensa é o romance do Fábio e da Ângela, dois lindos pombinhos jihadistas lusos, que levam a língua de Camões, mais umas quantas armas e bombas, à Síria. Ah e detestam o ocidente, mas não dispensam pepsi e nutella... A nutella senhores.
Ou os nosso jornalistas nos tomam todos por parvos ou são uma cambada de incompetentes, pois é frustrante ter que recorrer à imprensa estrangeira para perceber algo deste imbróglio no Médio Oriente. Mas o que povo é que é ignorante e não se interessa, não é?

Isto só como pequena amostra do que quero dizer, porque os exemplos são infindáveis, mas que somos um país único lá isso somos. Conseguimos ser surreais, dementes, deprimentes e divertidos ao mesmo tempo. Um verdadeiro estudo de caso.

segunda-feira, 15 de setembro de 2014

Então, gostaste de estar em Angola?

Deve ser a pergunta que mais ouço desde que regressei já lá vão seis meses. A resposta contudo, para quem lá passou uns bons anos, surpreende: não.
Gostei de Angola, mas não gostei de estar em Angola. Confuso? Tentemos de outra forma: o saldo da experiência foi positivo, mas não gostei de viver em Angola. A experiência global é francamente positiva, ganhamos uma "bagagem" que jamais ganharemos em Portugal, a experiência profissional é extremamente gratificante e compensadora, mas estar e viver em Angola é desgastante, é cansativo, esgotante mesmo. É um país perito em mostrar-nos que aquela não é a nossa casa, começa logo em Portugal com a aventura do visto (há sempre um papel pedido a mais, que não está nos requisitos no site do consulado, porque é uma "exigência" nova ou o "sistema mudou") e prolonga-se pelas pequenas experiências vividas no dia-a-dia de Luanda e na sua agressiva realidade. O Angolano até é um povo afável, divertido até mais não e que nunca perde a esperança num futuro melhor (aqui temos muito a aprender com eles!). Mas o dia-a-dia é uma luta constante, contra o trânsito, contra a falta de energia eléctrica, contra a falta de água, contra a falta de educação, contra a falta de recursos, contra muitas vezes não sabemos o quê ou quem pois só só sabemos que as coisas não acontecem, mas não sabemos porquê! É o sistema que falta, é o chefe que não está, é o papel que está mal e ainda falta outro papel, é o colega que assina que está preso no trânsito, é porque quem trata disso está incomodado (doente) e não veio trabalhar, é a lei que mudou, enfim qualquer coisa serve, ao ponto de também virmos de lá pós-graduados em desculpas para não fazer nenhum. Cada objectivo alcançado é uma conquista enorme, porque as coisas só acontecem com muito esforço, com muito suor, contra muita contrariedade apenas porque sim...
Mas é tudo isto que nos molda e nos faz crescer. Muito mau mesmo é termos sempre a sensação que não pertencemos ali, que estamos desfasados, que estamos a mais. Mau mesmo é ter sempre uma constante sensação de insegurança. Mau mesmo é ser assaltado mais que uma vez à porta da própria casa à mão armada. Ou ser assaltado mais que uma vez à mão armada enquanto conduzia (uma merda de um Suzuki Jimny, talvez porque o condutor tem uma cor, pois ao lado estava um BMW X5 com um condutor de outro tom de pele a exibir o relógio dourado). E péssimo, pior que isto tudo, é a polícia não estar lá para ajudar, mas apenas para tentar encontrar mil e uma formas de nos sacar uns dólares cada vez que nos manda encostar, ao ponto de não sabermos a quem recorrer em caso de necessidade.
Deixemo-nos de hipocrisias e coloquemos as coisas em pratos limpos: se os rendimentos em Portugal fossem o dobro dos actuais ninguém (ou quase) estaria em Angola. Esta é a verdade nua e crua. "Mas estiveste lá sete anos", afirmam depois as pessoas; pois estive, pois estive... E porque terá sido? Mas, atenção, também digo o inverso: fosse Luanda mais segura, organizada e com mais recursos e já se tinha dado aqui uma debandada geral!

sábado, 13 de setembro de 2014

Coisinhas boas do Alentejo: o regresso do Tomba Lobos


A melhor notícia gastronómica para o Alentejo aconteceu neste Verão: o melhor restaurante da região - o Tomba Lobos - reabriu. Depois de encerrado em finais de 2012 em boa hora o Chef José Júlio Vintém decidiu, depois de uma breve estadia no Brasil, regressar à terra natal e reabrir o Tomba Lobos. E que reabertura...
É um regresso, literalmente, às origens, pois deixa o anterior espaço no centro de Portalegre para voltar à casa original na Pedra Basta, em plena encosta da Serra de S. Mamede. Pessoalmente gostava mais do espaço anterior, mais moderno, um tanto ou quanto cosmopolita, quiçá até em demasia para o Alentejo, mas, enfim, gostos são gostos e o novo espaço é mais rústico, e acorde com a região, mas não sem bom gosto. Mas o que importa o espaço quando a cozinha e o talento do Chef estão ainda melhores? Era difícil melhorar o que já era excelente, mas José Júlio conseguiu e a sua cozinha está simplesmente soberba; é tradição Alentejana pura e dura, mas sempre com um toque pessoal único, chegando por vezes a dar-se ao luxo de "desconstruir" certos pratos à sua essência. Prove-se o soberbo focinho de porco no forno (há pouco tempo atrás teriam que me pagar para comer isto!) ou as genialmente simples pétalas de toucinho, para perceber onde quero chegar. Há espaço para a perdiz, a fraca, o pato, o porco preto, a vitela maturada e até o achigã; aqui a matéria prima é rainha, os petiscos alentejanos mandam na carta e o talento do Chef trata do resto. E os vinhos, como não podia deixar de ser, acompanham, com uma carta recheada de qualidade, mas ainda assim a necessitar de um pouco mais de variedade; nas minhas duas visitas "marchou" o excelente Terras d'Alter Reserva Tinto 2011.
O Tomba Lobos evoluiu de forma surpreendente e conseguiu o impensável, melhorou o que era quase perfeito, subindo um degrau na excelência da gastronomia Alentejana. O Lobo está em grande e continua o melhor.