Sete anos em Angola dão para conhecer muito, viver muito, por isso muita gente me pergunta o que penso da economia angolana: o seu crescimento, as suas projecções, como é composta, o que a sustenta, etc.; no fundo querem saber se é um mercado onde valha a pena investir ou explorar, já que tantos ainda hoje a conotam - erradamente - como um el dorado.
Atentem como nos últimos anos as previsões de crescimento têm sido constantemente revistas em baixa, pois se previamente arrancam em alta e a meio do ano há uma revisão, no fim a coisa pinta bastante diferente. Vejam estes números de 2012, 2013 e 2014, e comparem com estes outros aqui ou aqui. As diferenças são notórias.
Três factos incontornáveis sobre Angola: não há total liberdade à circulação de pessoas, capitais e bens.
Angola tem um défice gigantesco de mão de obra qualificada, mas é incrivelmente burocrático e moroso obter um visto de trabalho para um trabalhador expatriado.
Depois é surreal a demora e a burocracia para pagar o salário a esse trabalhador, se ele quiser receber o seu salário - como é seu direito - no seu país de origem; as transferências de divisas são ridiculamente burocráticas e demoradas. Mas não só, pois todas as transferências de divisas são burocráticas (tudo e mais alguma coisa deve ser justificado) e incrivelmente demoradas, portanto os pagamentos a fornecedores estrangeiros são uma verdadeira odisseia. Fornecedores esses, que além de só venderem pré-pago (pelo motivo atrás, mas não só), viram agora diminuir as suas vendas devido ao aumento das tarifas aduaneiras.
Este ano as taxas sobre a maioria das matérias primas (e não só) sofreram aumentos brutais, com a desculpa de ser um motivo para promover a produção local. A pergunta é inevitável: quando não há saneamento nem energia (seja para a população ou para a industria) de que produção local estamos a falar? É que se for a produção de petróleo estamos esclarecidos. Junte-se a isso a falta de divisas no mercado para a receita ficar completa (mas não fale nisso em voz alta, que o assunto aqui na tuga é tabu).
Na posse destes dados, e outros que existem disponíveis, cada um faça a sua ideia, mas cautela e caldos de galinha nunca fizeram mal a ninguém. Pessoalmente fico reticente com as constantes revisões - e confirmações - em baixa do crescimento angolano, assim como uma cada vez menor liberdade económica (vivi o explosivo crescimento em 2007/2008 e não tem comparação com a realidade de hoje). País algum enriquece e prospera orgulhosamente só. Já viram outros percorrer o mesmo caminho? Pois... Mais um motivo para aprenderem com o erro alheio.
Como o tema dá pano para mangas, outras considerações ficam para outros posts.