domingo, 30 de outubro de 2011

Breve história de uma longa viagem (2)

Iniciada a viagem era tempo de conhecer o admirável mundo novo que se abatia sobre os meus olhos incrédulos e mente atordoada, pois nada nos prepara para as terras abaixo do "Coração das Trevas", a que alguém chamou "Os Cus de Judas".
Nas terras da Lusitânia as promessas de todas as mordomias e condições para desenvolver a actividade profissional foram imensas, tudo aquilo que um gestor pode desejar é prometido à porta de um qualquer avião na Portela com destino ao 4 de Fevereiro, mas quiçá pela duração da viagem com as suas longas 7 horas o quadro mude de figura e a conjuntura económica se altere de tal forma que não permita cumprir com o que ficou no papel. A adaptação não foi fácil. Nunca é. À dura realidade de um país com tudo por fazer bateu-me a realidade da pior cara dos nossos conterrâneos. A responsabilidade social é coisa linda de ser ver, mas apenas aplicável na aldeia onde se é rei, pois como olhos que não vêm coração que não sente, a mais de 5 mil kms de casa isso é coisa que não importa. Aqui revela-se a pior face de alguns dos nossos "grandes" empresários, tão preocupados em dar boas condições de trabalho que, entre outras coisas, chegam a transformar um pequeno T3 numa caserna de quartel tal a quantidade de beliches que por lá cabem. Certamente para fortalecer o espírito de equipa... Já para não falar na sustentabilidade, tão poupados que são nas viaturas da empresa e no gerador lá de casa, que transportes públicos e luz eléctrica são coisas que não faltam em Luanda. Fui literalmente atirado à minha sorte. Há que nos chame expatriados, eu senti-me desterrado. África esventra-nos, mostra-nos a nossa verdadeira essência, e eu vi e senti muita coisa abominável de quem menos esperava: daqueles que pisam o mesmo solo que nós, que nasceram nas mesmas terras, sangue do nosso sangue. Mas a vida é uma aprendizagem constante, um viagem que a cada paisagem nos ensina algo para o caminho que temos pela frente e se o trilho que escolhemos foi o errado há que arrepiar caminho e recomeçar a marcha. O regresso foi inevitável. As escolhas não são definitivas e regressar por menos que aquilo que tínhamos antes de partir não seria logicamente para todo o sempre. A oferta de uma esmola em troca do tratamento sofrido nos Cus de Judas foi como um murro no estômago. Mas lá diz o ditado que quem está mal muda-se e não tardou muito que as malas não fossem feitas outra vez, mas desta feita às ordens de alguém que não o rei da aldeia. E ainda se queixam que Portugal é Lisboa e o resto é paisagem, certamente não seria verdade se não aliassem a desértica paisagem ao deserto de ideias. Talvez se confirme que "Santos da casa não fazem milagres", pois realmente afinidade com os santos da minha terra foi coisa que raramente tive, já que até o primeiro reconhecimento recebido ao suor do trabalho foi nas terras ao outro lado do Guadiana.
Mas felizmente tudo muda, nada é para sempre, o que comprova que o esforço e a procura do mérito valem a pena. Se a vida é uma longa viagem, deve ser a única onde não devem existir aéreas de serviço, parar só no fim.
E assim a viagem continua, Angola está no mesmo sítio, mas também ela a mudar constantemente,  pelo que só Deus saberá qual o próximo destino desta longa aventura.

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

A brigada do reumático

Serei só eu a estar cansado de ver os mesmos velhos jarretas que nos desgovernaram nas últimas décadas a apregoar nos media os meios para a salvação da pátria?

Já sabemos que em Portugal a idade é um posto, mas a incompetência existe.

Ou Portugal é um imenso albergue da terceira terceira idade ou malta nova é bué da fixe e tá noutra onda.

terça-feira, 25 de outubro de 2011

Absolutamente fulcral

Eu até gosto do actual Ministro da Economia, pois acredito que se o deixarem trabalhar podemos ter agradáveis surpresas, mas daí a achar que meia hora extra de trabalho é absolutamente fulcral, vai uma grande distância, ainda por cima para quem num passado recente se dizia liberal.
Sinceramente não vejo onde é que 15 minutos a mais de manhã e 15 minutos à tarde vão aumentar a produtividade. Quanto muito a produção e mesmo assim...
Tenho cá para mim que absolutamente fulcral seria liberalizar o horário de trabalho de modo a permitir uma adaptação às reais necessidades da empresa, eliminar o salário mínimo nacional, já que em tempos de crise (e não só) cada um só deve pagar o justo, acabar com esse para-quedas proteccionista dos incompetentes e reumáticos que dá pelo nome de "justa causa", eliminar todo e qualquer subsídio à actividade económica, já que são sempre os mesmos a pagar, acabar com as ajudas, perdão,  adjudicações directas, pois quem mais unhas tem mais toca viola, acabar com as taxas, taxinhas, alvarás, licenças, certificados, papéis e papelinhos para a criação de empresas e fico-me por aqui para não ser muito maçador.
Mas fulcral, fulcral mesmo, seria não cair no erro dos anteriores homólogos de confundir decisões políticas com iniciativas económicas. Mas, tendo em conta a tradição do rectângulo, isso já devo ser eu a sonhar alto.

sábado, 22 de outubro de 2011

No meu tempo é que era...

(Imagem via net)

As comemorações dos 20 anos do álbum "Nevermind" dos Nirvana e o fim dos R.E.M. deixaram-me a reflectir sobre o estado da música nos tempos que correm e a acabar por usar o cliché que todas as gerações usam para se referir à música dos seus tempos de juventude.
Não direi, no entanto, que hoje não há música de qualidade, haverá de tudo como sempre houve, o bom e o mau, mas o que é notório é a ausência de um movimento musical, uma moda, um estilo que se sobreponha aos demais dominando a cena musical, o que é um facto notável tendo em conta a história da música moderna. Não recuando muito no tempo podemos relembrar como nos 70 tivemos o Hard Rock (Kiss ou Black Sabath) e depois o Punk (Sex Pistols, The Clash), nos anos 80 e como reacção a estes afirmou-se a New Wave (Blondie, Orquestral Manoeuvers In The Dark, etc), dando espaço depois ao Madchester (Happy Mondays ou Stone Roses), de imediato no inicio dos 90 o Grunge (Nirvana, Pearl Jam, Soundgarden) explode, literalmente, com tudo até ali, com Seattle a dominar a cena musical de forma avassaladora, pouco depois como resposta, nas terras de suas majestade, surge o Brit Pop (Blur, Oasis ou Suede) e o Big Beat (Chemical Brothers, Prodigy ou Fatboy Slim) ao que os norte americanos respondem, no final da década, com o Nu-Metal (Korn, Limp Bizkit, Splipknot, etc). No inicio do Séc. XXI este fenómeno de "cenas" e estilos musicais, alternando uns com os outros, começa a mudar e exceptuando, talvez, um certo fenómeno de revivalismo Rock com bandas como os The Strokes, The Hives ou Kings of Leon, não houve uma moda a assinalar, sendo que até aos dias de hoje é possível ouvir de tudo um pouco, mais ou menos ao estilo de "tudo ao molho e fé em Deus". Alheias a isto tudo houve bandas que passaram incólumes e ao lado de modas, como os Metallica ou os Radiohead, sendo por isso consideradas das melhores naquilo que fazem, apesar de já não serem bandas para as massas, mas para um grupo fiel e com bom gosto.
E por tudo isto diga-se em abono da verdade que o que realmente salta à vista, e aos ouvidos, de todos é a confrangedora falta de qualidade da música nos dias que correm e isto, por incrível que pareça, tem uma explicação, que não é nada mais que a concretização da profecia dos Buggles: "Video Killed the Radio Star" (ironicamente o primeiro video a passar na MTV). Hoje não importa a música, não importa aquilo que se canta e como se toca, mas sim que estilo visual se tem. A MTV tornou a música imagem e é pela imagem que se consome música, esta já não entra primeiro pelos ouvidos, mas pelos olhos. Pode soar retrógrado, mas a verdade é que  um corpo esbelto e uma carinha laroca (de preferência com uma voz que não magoe os ouvidos) vendem muito mais que um estilo ranhoso mas cheio de talento. Se assim não é por onde andam as cantoras desgarradas como Patti Smith ou PJ Harvey? Onde param os artistas feios, porcos e maus como Tom Waits ou Nick Cave? Pois é, lamentamos mas não temos, em troca temos produtos de marketing, com uma imagem estudada ao milímetro, sem pingo de talento e com canções todas iguais, mas tão giros que até enjoam.
A juntar a isso o fenómeno das redes sociais e da internet veio mudar definitivamente a forma de consumir música e por inerência a própria música. Nos 90 só tínhamos o Blitz e a Super Som para nos mantermos actualizados e havia que fazer esperas na rádio para ouvirmos aquele novo single acabado de lançar. Ainda me recordo de aos 15 anos ficar acordado até ás 2 ou 3 da manhã para ouvir na Radio 3 de Espanha um concerto em directo dos Green Day ou uma entrevista dos Silverchair. Hoje tudo isso está à distância de um clique e infelizmente só a qualidade parece distante.

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Quem te avisa teu amigo é

  Imagem via net

"A liberdade individual é incompatível com a supremacia de um objectivo único ao qual a sociedade inteira tenha de ser subordinada de uma forma completa e permanente."

sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Roubar aos pobres? Sem dúvida

No Arrastão há um post notável sobre o roubo que o Governo prepara aos pobres, para favorecer a banca nacional. Coisa diabólica com certeza.
Num país de parcos recursos, como o nosso, a malta gosta de incentivos estatais à economia, como obras públicas e subsídios para tudo e mais alguma coisa. Mas como não há "pão para malucos" o Estado endivida-se à banca para ganhar votos. O problema é que se não pagar os incentivos à economia, algum banco pode cair e aí temos o inferno na terra e na economia. Sobra o bolso dos que batem palmas às obras, aos incentivos e aos subsídios e votam nisso. Ganha o Estado e ganham os bancos.
Capitalismo selvagem? Infelizmente não. É socialismo puro e duro.

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

A oportunidade perdida

Senhoras e senhores, deixemos cair o pano, Portugal vai fechar.
Todos fomos avisados. Sabíamos o que aí vinha. Adivinhávamos que não iria ser fácil, o que não imaginámos é que seria impossível, pelo menos no rumo que a partir de hoje iremos tomar.
A factura volta a ser apresentada aos suspeitos do costume. O emagrecimento do Estado, o  fim da actividade económica do mesmo e a liberalização da economia fica para outra altura. Reformas estruturais só no bolso dos contribuintes. Procura-se viva ou morta a responsabilização de quem nos conduziu a isto.
Portugal não podia falhar e tinha tudo para fazer as coisas certas no momento certo. Falhou estrondosamente. Se há esquerda vão gritar de raiva, à direita só podemos chorar de frustração.
Drucker ensinou-nos que gerir é fazer as coisas bem, liderar é fazer as coisas certas. Não fazemos nenhuma das duas. Também nos disse que não há países subdesenvolvidos, apenas países subgeridos.
Bem vindos à República Socialista Portuguesa. R.I.P.

domingo, 9 de outubro de 2011

Quem fica?

Aquela que chegou a ser a 8ª economia mundial torna-se novamente um país de emigrantes: espera-se que 500 mil pessoas saiam de Espanha em busca de melhor.
Portugal, onde os números são igualmente preocupantes, e Espanha voltam assim praticamente à mesma situação que viviam nos anos 50 e 60 do século passado. Ora se os empreendedores, ambiciosos e mais qualificados saem do país, é caso para perguntar: quem fica? Muito temo que fiquem os mesmos de então, ou seja, os provincianos,  os chico-espertos e os políticos. E vejam onde isso nos levou.
Ou muito me engano ou daqui a 40 anos continuaremos na mesma: pobres, ignorantes e desgovernados.

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Em Angola não somos trabalhadores; apenas "estrangeiros"?

Fiquei hoje a saber que Angola me proibiu de "mexer" no meu dinheiro.
Os bancos em Angola estão proibidos de vender divisas a estrangeiros não residentes, mesmo que com Visto de Trabalho (!), assim como de transferirem divisas para o exterior por ordem dos mesmos.
O aviso em causa do Banco Nacional de Angola foi publicado a 2 de Junho do corrente.
O BNA deve, pois, estar muito preocupado pelos estrangeiros que aqui trabalham não gastarem os seus Kwanzas. Como se na cidade mais cara do mundo, para expatriados, pudesse haver muita coisa de borla...

domingo, 2 de outubro de 2011

Noticias da República (Socialista) Portuguesa








Somos um país capitalista, não somos? Somos desenvolvidos, não somos? E ainda acreditamos no Pai Natal?

Surreal

Na empresa onde trabalho andamos há três meses a tentar recrutar dois gestores de conta.
Das dezenas de currículos analisados foram entrevistados uma mão deles, desses seleccionámos dois. Os sujeitos em causa pediram então que aguardássemos o seu inicio de actividade, pois teriam que avisar com trinta dias de antecedência as actuais entidades patronais. Até aqui tudo normal. Na data prevista o primeiro candidato a iniciar funções trabalha apenas de manhã, informando, na hora de almoço, que à tarde tem uma consulta médica e não pode ir trabalhar mais, ao que o Director-Geral, logicamente, alerta que não é um inicio com o pé direito faltar uma tarde logo no primeiro dia. À noite envia um email a dizer que não se sentiu bem vindo e portanto já não vai trabalhar mais. O outro aparece na data prevista para informar que o actual patrão afinal não o deixa terminar funções, a não ser dando mais sessenta dias (!?) à actual empresa. E isto tudo apesar de os salários, regalias e condições oferecidas por nós serem claramente superiores às que, supostamente, auferiam.
Como não estou para tirar conclusões precipitadas, ou que me acusem de algum preconceito, digo apenas que é difícil recrutar trabalhadores num país onde a taxa de desemprego ronda os 30% (segundo estimativas, pois não há dados oficiais) . No mínimo surreal.