domingo, 23 de setembro de 2012

Um país aos solavancos

O actual governo não serve, pronto. O povo saiu à rua, os senadores da nação falaram, os jornalistas escreveram, os comentadores comentaram e é ponto assente: este governo não serve.
Da mesmo forma que outro também não serviria. Guterres não servia, Durão não servia, Santana nem se fala, mas Sócrates até era fixe. E quem vier depois deste governo certamente vai lançar saudades de PPC. É infalível; a lusitana saudade adoça sempre o passado. E pessimistas como somos a coisa atinge níveis próximos da patologia, já que o imediato é tudo, o longo prazo não existe e o resultado final, não se vislumbrando, não existe. Em Portugal parece que nos importamos mais como o campeonato começa do que como acaba. Vai daí tomar medidas não é para qualquer um, procuramos um resultado futuro mas sem prejudicar os efeitos imediatos. Adoramos a equidade (seja lá o que isso for), pois temos que agradar a gregos e troianos. E toda a gente opina, toda a gente comenta, todos sabem como sair da crise, todos governam (é Tribunal Constitucional, é Conselho de Estado...), mas não nos sabemos governar e já pedimos ajuda três vezes.
Ora corta subsídios, ora não corta subsídios, ora privatiza RTP ora não privatiza, ora mexe na TSU ora já não mexe na TSU... Bem sei que por vezes é necessário dar um passo atrás, para de seguida dar dois em frente, mas Portugal além de dar o passo atrás (empobrecendo ou limitando-se à sua real condição), já anda em zig-zag, o que talvez seja mais perigoso, pois com tanta curva e contra-curva a malta acaba ainda mais desorientada e corremos o risco de despiste.

sábado, 22 de setembro de 2012

Novas andanças

A partir de hoje andarei também aos "tiros" pelo Forte Apache.

Obrigado ao Rodrigo Saraiva pelo convite.

sábado, 15 de setembro de 2012

Portugal é um país surreal (2)

O Sr. Pedro Silva Pereira (sim, esse mesmo, o defensor acérrimo das políticas do turista parisiense) escreve uma notável prosa com o título "A Grande Fraude", sobre as últimas medidas de Passos Coelho, onde até dá um toques de contabilista apresentando umas contas e umas previsões e tudo.
Mas onde andou este senhor nos últimos 6 anos?! Só agora descobriu os seus dotes contabilísticos? Que jeitasso teriam dado quando a dívida pública galopava a passos largos! Será que os políticos portugueses têm um botão para ligar/desligar o bom senso conforme estão no poder ou na oposição? Quanto a fraudes, sem comentários.

Por outro lado um dos senadores da nação vem dizer que se somos "bons alunos da troika, eles são capazes de ser maus mestres"
Como?! Então porque já os chamámos três vezes desde a democracia? E nas três vezes que os chamámos quem governava o país? O PS, pois. Já toda a gente sabe que na pedagogia socialista um aluno reprova não porque não aprenda, mas porque o professor não ensina...

segunda-feira, 10 de setembro de 2012

Portugal é um país surreal

O PS governou Portugal durante seis anos.
Duplicou a dívida pública.
Aumentaram impostos.
Favoreceu, incentivou, subsidiou e promoveu uma série de políticas económicas de crescimento.
Prometeram 150.000 empregos.
Quem avisava que o abismo estava a um passo era bota-baixista, uma voz incómoda que importava silenciar; Portugal era o paraíso do progresso.
Deixou o país com meio milhão de desempregados.
Portugal vai à falência.
Assinou juntamente com os outros partidos um acordo de assistência financeira com instituições internacionais.
O PSD e CDS vencem as eleições e estão no governo há um ano.
Não há dinheiro e todos fomos avisados da imensa dureza dos tempos mais próximos.
Já há quem peça a demissão deste governo.

Além de surreal parece um bocadinho ingovernável.

sábado, 8 de setembro de 2012

Não há milagres

"A Assembleia Constituinte afirma a decisão do povo português de defender a independência nacional, de garantir os direitos fundamentais dos cidadãos, de estabelecer os princípios basilares da democracia, de assegurar o primado do Estado de Direito democrático e de abrir caminho para uma sociedade socialista, no respeito da vontade do povo português, tendo em vista a construção de um país mais livre, mais justo e mais fraterno."

Preâmbulo da Constituição da República Portuguesa

"Ninguém pode ser privilegiado, beneficiado, prejudicado, privado de qualquer direito ou isento de qualquer dever em razão de ascendência, sexo, raça, língua, território de origem, religião, convicções políticas ou ideológicas, instrução, situação económica, condição social ou orientação sexual."

Ponto 2 do Artigo 13º (Principio da igualdade) da Constituição da República Portuguesa

"Liberdade de iniciativa e de organização empresarial no âmbito de uma economia mista"

Alinea C) do Artigo 81º, Principios Fundamentais da Parte II (Organização Económica) da Constituição da República Portuguesa


Por muito que me desagrade a governação actual, ainda assim a milhas da anterior, bem podemos esperar sentados por mudanças estruturais na nossa economia, pois com tamanho colete de forças bem pode governar o gajo mais liberal, que por aí houver, que não terá a  mínima hipótese se antes não rasgar o texto acima.
Há muitos pormenores a discutir, mas creio que os três ponto acima são mais que suficientes para não acreditarmos em milagres. Se o preâmbulo dá o mote (que justificaria o nome do país como República Socialista Portuguesa), o principio de igualdade estampa logo o nivelamento por igual da condição económica dos portugueses; ora como é  possível existir mérito pelo esforço individual num país assim? Não vale a pena. Curiosamente a palavra "liberdade" surge 28 vezes na Constituição, contra apenas 5 vezes da palavra "economia" (questão de prioridades?) e nessas 5 surge 2 vezes com o apêndice "mista". Isto é uma tremenda falácia, pois numa sociedade socialista, a qual por definição pressupõe o planeamento central, nenhuma economia privada consegue competir contra uma economia pública que está sob a protecção do todo-poderoso Estado, o qual planificará e decidirá sempre a seu favor. Numa economia privada os prejuízos resultam em falências, numa economia pública os prejuízos não existem, numa economia mista os prejuízos do sector privado resultam em falências, enquanto os do sector público são suportados com os lucros do primeiro. Alguém falou em igualdade?
Mas vendo bem as coisas, um povo cujos maiores desígnios são a selecção de futebol e gritar palavras de ordem contra a riqueza, de quem cria empresas e gera emprego, só tem aquilo que merece; pois afinal como diz o próprio: "cada um só dá na medida daquilo que recebe".

Austeridade à Portuguesa


Desde os tempos em que o país ficou de tanga que a receita para cozinhar a contabilidade doméstica é a mesma. O monstro, esse continua indomável, pelos vistos nem um chicote estrangeiro o segura. Há dez anos que andamos nisto.
Diz-se que há por aí umas coisas chamadas "interesses instalados". Quando o barco for ao fundo o único interesse será saber nadar, pois a continuar assim nem os botes salva-vidas se salvam.

domingo, 2 de setembro de 2012

O bota-baixismo e o nacional-desenrascanço

Há uns bons anos, trabalhava eu em Espanha, frequentei uma acção de formação no Porto, ministrada por um dos maiores importadores de automóveis e camiões do país, onde ouvi a história de um engenheiro sueco que tinha feito recentemente uma auditoria de rotina, para o fabricante, sobre os procedimentos do representante em Portugal, sendo que os resultados foram extremamente satisfatórios, tendo o referido auditor sentenciado que "colocassem vocês, Portugueses, no dia-a-dia a vossa extraordinária capacidade de improviso e de trabalho sob pressão e ninguém vos superaria como potência económica". O que o dito Eng. Sueco referiu não era senão o nosso tão famoso "desenrascanço", tão útil que nos tem sido em épocas de aperto.
Isto vem a propósito do post um pouco mais abaixo, onde desanco a falta de visão de alguns dos nossos patrões (por algo os chamo de patrões e não empresários). Ora esta característica de auto-crítica é também notável no povo português, sendo que ninguém fala tão bem mal dos portugueses como nós próprios; não precisamos que nos baixem a moral, se há coisa que somos auto-suficientes é nisto. E somos há muito e demasiado tempo. Se enquanto povo não sabemos valorizar aquilo que temos de bom e fazemos melhor que outros, que não é pouco, então estaremos irremediavelmente condenados ao fracasso. Também somos saudosistas como poucos, o que por vezes não ajuda lá muito. Continuamos agarrados às glórias do passado, as quais jamais devemos esquecer, mas a História escreve-se hoje para ser lida amanhã, é aquilo que fazemos hoje enquanto povo que irá ditar o que seremos amanhã enquanto nação.
Temos uma enorme capacidade de adaptação, uma assombrosa capacidade de sacrifício, uma arte sublime para o improviso a trabalhar em cima do joelho, pena é que só as usemos quando "temos os calos apertados". Como dizia o Eng. Sueco, do inicio do post, também eu acredito que se quisermos ninguém nos segura, assim haja mais amor próprio depositado além da selecção de futebol.

sábado, 1 de setembro de 2012

O som da vida


"Um morte na família era uma coisa raramente vivida como um acontecimento. Era vivida como uma mudança de estação, como o final do verão, ou um período de mau tempo. Uma morte na família aproximava-nos mais da morte a nós próprios. A religião não tinha tornado a morte menos sinistra: continuava a ser um mundo onde preferíamos não entrar. A morte na minha mãe não muito tempo depois de ter começado a minha carreira teve como efeito a eliminação de uma espécie de ruído branco da vida do meu pai e da minha, um ruído branco muito agradável que eu achava que talvez só as mulheres conseguissem proporcionar. Era o som da vida, ao contrário da lógica do silêncio de que os homens gostavam: as mulheres procuravam Deus, ao passo que os homens procuravam Euclides. Quem me dera que fossem a mesma coisa."

Thomas McGuane, Por Um Fio
Quetzal Editores. Tradução: Vasco Teles de Menezes

Imagem: daqui.