sexta-feira, 31 de agosto de 2012

Exportar por exportar mais vale estar quieto

Uma das vantagens de trabalhar no estrangeiro, principalmente num mercado onde existem muitas empresas portuguesas, é permitir conhecer melhor a verdadeira natureza dos nossos empresários.
É já um lugar comum afirmar que temos que exportar, temos que nos internacionalizar, não conseguimos continuar a viver do que produzimos no quintal, mas a verdade é que a nossa classe empresarial ainda é muito imberbe na forma como aborda um mercado externo. Trabalhando na área dos transportes internacionais e logística vejo isto em primeira mão. Chega a ser confrangedor ver como muita gente julga que exportar é encher um contentor, colocá-lo num navio, descarregá-lo no porto de destino e já está, muitos chegam a não saber das suas responsabilidades inscritas no incoterm da factura (se é que sabem o que é um incoterm!). Não há a preocupação de conhecer a legislação local, as regras das instituições envolvidas, os documentos necessários, as restrições ou condições para alguns produtos ou, mais grave ainda, os custos das operações. Há gente tão obtusa para a qual a incompetência é de quem ele contratou para transportar essa carga mas que é impossível entregar, porque a documentação recebida para o efeito não está conforme as normas locais, já que ele "não percebe nada disso, apenas quer exportar e é para isso que está a pagar". E até paga e paga demasiado, porque não há a preocupação com timmings, os documentos solicitados ficam muitas vezes a dormir não se sabe onde, e como tempo custa dinheiro, e em Angola custa mesmo muito dinheiro, os custos disparam, os prazos já lá vão e o preço de venda fica estratosférico; competitividade é ainda um palavrão abstracto para esta gente.
Existe de tudo: desde o pedreiro lá da aldeia que exporta um contentor e julga-se já um grande empresário, mas demora uma eternidade a pagar e ainda reclama do serviço, ao empreendedor que exporta dezenas de contentores por mês, cumpre tudo à risca, paga e não reclama. Ao contrário dos empresários estrangeiros que por aqui pululam nos quais a regra é a exigência e o perfeccionismo, pois estão a jogar fora de casa e como tal não brincam em serviço e querem mostrar que são os melhores. Estamos a milhas deste espírito.
Todo e qualquer empreendedor procura o lucro, mas acima de tudo e para isso deve prestar um serviço melhor ou diferente da concorrência, se procurar o lucro a qualquer custo é certo que esse custo será demasiado elevado ou até mesma fatal. Há que fazer as coisas certas ao invés de fazer bem as coisas, e como diz o povo "depressa e bem não faz ninguém", sendo que eu prefiro o ditado espanhol "sin prisa, pero sin pausa", pois muito temo que a nossa crise muito contribua para a pressa dos nossos patrões em exportarem para enriquecerem. E essa pressa a juntar ao provincianismo e ignorância foi fatal para alguns que já conheci por estas bandas.

sábado, 25 de agosto de 2012

Ingovernável? É o socialismo, estúpido!

Portugal é um país de empurrar os problemas com a barriga, do bola para a frente e fé em Deus. "Logo se vê" ou "depois vemos isso" são chavões demasiado populares quando toca a enfrentar um problema. Porquê dedicarmos o nosso tempo a algo chato e aborrecido quando o podemos fazer amanhã? Nas mais pequenas coisas às grandes decisões é algo transversal a todo o nosso povo. A classe política, não sendo extraterrestre nem sequer importada do estrangeiro, não foge à regra. Não gostando de problemas fingimos igualmente que eles não existem, abraçando também o socialmente exigível de agradar a tudo e todos, pois encontrar uma solução pressupõe fazer as coisas certas e não as coisas bem, sendo que estas últimas tendem a agradar a uma parte em prejuízo de outra. Assim o imediato é tudo, o longo prazo não se vislumbra pelo que não importa.
Isto vem a propósito do desastre da receita fiscal até à data. Portugal não cresce desde que entrou no séc. XXI, tivemos uma tristemente célebre década perdida a coleccionar défices consecutivos, vai daí o défice, ou o monstro, é o alvo a abater. E como? Para os iluminados que nos governam mais défice é igual a menos colecta de impostos, logo subam-se estes últimos. Um político que pense assim nem uma mercearia é digno de gerir. Coitado do Sr. Zé lá da esquina se decide aumentar o preço das alfaces, assim sem mais, só porque está a fazer menos caixa ao final da semana... Os iluminados que nos governam demonstram pelas suas práticas que julgam que obtêm menos receita fiscal, não porque o país não cresça, mas porque tem baixos impostos. Tal alheamento da realidade já tem tiques de autismo, principalmente quando a única coisa a crescer, de há muitos anos a esta parte, é despesa do Estado. Até o Sr. Zé da mercearia lá da esquina sabe que são as despesas que ele tem que medem o lucro das alfaces que vende...
Mas no fundo até somos um país porreiro, de amigalhaços, de palmadas nas costas (um dos hábitos mais irritantes do povo português), ferir susceptibilidades não é connosco. Por isso reformas e mudanças até se vão fazendo, mas partindo deste principio, como podemos ver no modelo de pseudo-privatização da RTP, a coisa concessiona-se a um amigalhaço e pronto, já podemos dizer que se mudou alguma coisa para tudo continuar na mesma.
Modernos? Também somos. Até já temos um governo liberal. Tão liberal que tem vindo a mostrar que não faz falta: temos o Tribunal Constitucional para isso. Qual programa de governo qual quê, se não for decalcado da Constituição não serve. Até podemos vir a caminhar para uma sociedade socialista sem governo. Digam lá que Portugal não inova?

quinta-feira, 23 de agosto de 2012

Pensamento do dia

"Podemos sempre aprender alguma coisa com os outros, mesmo com os nossos inimigos. Neste tempo em que tudo custa tanto dinheiro, os críticos são mestres a quem não se paga. Merecem até, talvez, uma certa gratidão da nossa parte."

António Estanqueiro

domingo, 19 de agosto de 2012

España me encanta!


Igreja de São Francisco Xavier (Cáceres)


Plaza Mayor (Trujillo)


Templo de Diana (Mérida)

quarta-feira, 15 de agosto de 2012

No fundo é isto

"Se a Confraria do S.J. da Piedade, não tem vocação para gerir tal espaço então encerre-o. Comparando-o com a hotelaria, aquilo é uma pensão do mais rasca que há. E que fazer? Como em muitos locais, a Câmara Municipal que construa um. Todos sabemos que não é uma actividade económica rentável para um privado. Então que sejam os poderes públicos a promover essa actividade. Não há em Portugal estádios de futebol privados, a não ser aqueles que pertencem aos clubes. Todos os outros são pertença dos municípios. Ora se estes suportam a manutenção (e não só) destas infra-estruturas, porque não o campismo, que de certeza terá custos de exploração e manutenção muito mais baratos?"


No país das PPP, das obras para inglês ver, das falências em catadupa, do desemprego galopante, dos impostos asfixiantes e das três falências desde a democracia há quem continue a pedir mais obras, mais investimento público, mais dívida e mais défice, tudo com os nossos impostos. Notável.

domingo, 12 de agosto de 2012

Coisinhas boas do Alentejo: Tomba Lobos


Não vale a pena tentar encontrar adjectivos: é actualmente o melhor restaurante do Alentejo e arredores.
Há locais que nos marcam imediatamente à primeira e este foi um deles. Conheci-o nas férias de verão do ano passado e logo ficou agendada futura visita, se na altura foi surpreendente, desta vez a coisa foi simplesmente única e está mais que justificada a fama da criatividade de José Júlio Vintém, cuja diversidade dos menus justificam as visitas regulares, já que dificilmente encontrará os mesmos pratos. Só o reentrar lá já foi um prazer, pois é, certamente, um dos espaços mais elegantes do país, com linhas modernas e uma decoração sóbria que imediatamente nos agarra e de onde custa despedir-nos.
Se da primeira vez a fraca, o pato e os bicos de touro bravo estavam fabulosos, desta vez os nacos de vitela e uma açorda de lúcio estavam divinos, mas já a excelência tinha começado com as entradas, onde uma salada de beldroegas e um queijo de cabra gratinado com mel deram inicio às hostilidades. Tudo com o toque pessoal do chef a pedir demorada degustação apreciando cada segundo, pois como se diz no Alentejo "é o que levamos desta vida". A cozinha de autor, moderna e sofisticada, casa de forma perfeita com os melhores ingredientes da tradição alentejana, onde as ervas aromáticas e o azeite têm lugar de destaque. E tudo isto, como não podia deixar de ser, regado com os melhores nectares das terras alentejanas, cuja oferta é imensa. Na primeira visita o eleito foi um Esporão Reserva 2007, o que resultou num casamento perfeito, tendo desta vez a escolha recaído no Cartuxa 2007 ao que nos saiu o jackpot, pois qual não foi a nossa surpresa quando nos trouxeram um exemplar de 2006 que por lá andava esquecido. Simplesmente memorável.
É ainda um local relativamente desconhecido, só os conhecedores da boa mesa o conhecem, mas merece mais, muito mais que outros ditos gourmet que pululam pela imprensa, pela magnífica experiência que proporciona. A minha visita seguinte está já agendada para as próximas férias!

Para abrir o apetite podem visitar o site oficial ou a página no facebook.

sábado, 11 de agosto de 2012

Sobre as boas intenções do socialismo

As férias lá na terreola começam a tornar-se cada vez mais agridoces, pois se à alegria de voltarmos temporariamente a casa junta-se a amargura de ver a vermos cada vez mais triste. Elvas é neste momento praticamente um deserto. Sem empregos, sem dinheiro, sem diversões e sem ideias. Mas mais grave: sem pessoas.
Aqui há uns anos a cidade tinha uma das vidas nocturnas mais agitadas do Alentejo, principalmente no Verão, com as noites aos fins de semana a fervilharem de movimento. A influência de nuestros hermanos sempre se fez sentir e como tal o elvense sempre foi dado a folias. Até que a Câmara Municipal, sempre zelosa do conforto dos seus cidadãos à boa maneira socialista, decidiu reduzir o horário da zona nocturna por excelência - a Cidade Jardim - até à meia-noite, compensando com a autorização para os bares do Coliseu encerrarem mais tarde (afinal este tinha que ter alguma utilidade além de ostentar o nome de tão zeloso autarca e um concerto ou outro de tempos a tempos). Aparentemente uma boa decisão, já que estava a defender os moradores da zona, começa agora a revelar suas as verdadeiras consequências. Acabar a noite à hora em que a mesma está a começar, principalmente no Verão, não é lá muito boa ideia e desanima qualquer um a alinhar. É verdade que depois da meia-noite sempre podemos ir até ao Coliseu, mas a distância do mesmo não ajuda e já que a malta tem que pegar no carro o mais certo é rumar a Badajoz onde a oferta é maior, já que apenas quatro bares (!?) não é coisa lá muito diversificada. Resultado: a Cidade Jardim está moribunda e dos bares do Coliseu, segundo me contaram, resta apenas um. Não há vida nocturna em Elvas. As consequências económicas não são, assim, de desprezar.
Sem consumo não há circulação de dinheiro na cidade, a não ser que o Município ignore que um bar é um negócio como qualquer outro que arrasta consigo uma série de fornecedores; por outras palavras: cria e ajuda a criar empregos. Numa cidade onde pouco ou nada há para fazer sobra o tempo para beber umas cervejolas, mas, se nem isso uma pessoa consegue fazer a malta vai para outros locais onde gastar os seus Euros e o seu tempo. Badajoz agradece.
Já sobre o comércio nem sei que dizer. Há pouco mais de uma década os cidadãos espanhóis enchiam as ruas do comércio elvense, disputando as lojas com elvenses e vizinhos de outras localidades. Aos sábados de manhã era quase impossível andar a pé nas ruas da cidade. Havia oferta e diversidade. Tudo isso desapareceu. A falta de competitividade dos comerciantes existe, a sua não modernização e acompanhamento das tendências é uma realidade, mas não explica tudo. A cidade acompanhou as tendências de "modernização" que assolam todas as cidade históricas do país: restauros e requalificações, que na sua maioria não são mais que betão para votante ver e restrições à circulação automóvel, muitas restrições, desde vias com novos sentidos, proibições, supressão de lugares de estacionamento gratuitos à porta de casa e sua substituição por parques pagos uns quarteirões abaixo (esta é o socialismo no seu esplendor), etc. Ou seja toda uma miríade de boas intenções que visavam defender o bem público. Mas Elvas não é uma metrópole com uma moderna rede de transportes públicos, o seu centro histórico ainda tem uma dimensão considerável e uma população bastante envelhecida, pelo que limitar a circulação de pessoas é limitar a circulação de dinheiro. Se também aqui temos que pegar no carro e estacionar longe do nosso ponto de interesse, mais vale fazê-lo onde há mais oferta e qualidade. Mais uma vez Badajoz agradece. Por isso as decisões políticas devem sempre ter em conta as características e idiossincrasias próprias do meio em que se inserem. E as pessoas ainda se perguntam o porquê da recente deslocação do comércio e serviços para os subúrbios como a já referida Cidade Jardim.... Dirão que me esqueço da crise que todo o mundo atravessa. Pelo contrário, a crise tem tudo a ver com a pasmaceira que se vive em Elvas. O que atrás referi não explica tudo, mas ajuda e muito; o problema está que se a uma crise juntamos restrições à actividade económica então temos traçado o caminho perfeito para o desastre.
Diz o povo que de boas intenções está o inferno cheio. E o socialismo também, digo eu.

PS: resta o consolo e a esperança na recente nomeação da cidade a Património Mundial, mas este titulo por si só nada significa se não se trabalhar para o dar a conhecer.

domingo, 5 de agosto de 2012

A minha leitura nas férias

"Se o seu rendimento for o mesmo quer o leitor trabalhe duramente ou não, que razões terá para trabalhar duramente? Porque há de fazer o esforço de encontrar o comprador que mais valorize aquilo que tem para vender, se isso não lhe trouxer qualquer benefício?  Se não houver recompensa alguma para a acumulação de capital, porque há de alguém adiar aquilo que pode desfrutar agora mesmo? Porquê poupar? Como poderia alguma vez o capital físico existente ter sido alguma vez construído apenas na base da contenção voluntária dos indivíduos? Se não houver gratificação para a conservação do capital, porque não hão de as pessoas dissipar qualquer capital que tenham acumulado ou herdado? Se se impedir que os preços afectem a distribuição dos rendimentos, não poderão ser usados para outros fins. A única alternativa é a planificação da economia. Uma qualquer autoridade terá que decidir quem deve produzir o quê e quanto. Uma qualquer autoridade terá de decidir quem deve varrer as ruas e quem deve gerir a fábrica, quem deve ser o polícia e quem deve ser o médico. (...)
Quando todos possuem algo, ninguém o possui, e ninguém tem interesse directo em manter ou melhorar o seu estado de conservação."

Milton Friedman, Liberdade para Escolher (Lua de Papel)