Uma das vantagens de trabalhar no estrangeiro, principalmente num mercado onde existem muitas empresas portuguesas, é permitir conhecer melhor a verdadeira natureza dos nossos empresários.
É já um lugar comum afirmar que temos que exportar, temos que nos internacionalizar, não conseguimos continuar a viver do que produzimos no quintal, mas a verdade é que a nossa classe empresarial ainda é muito imberbe na forma como aborda um mercado externo. Trabalhando na área dos transportes internacionais e logística vejo isto em primeira mão. Chega a ser confrangedor ver como muita gente julga que exportar é encher um contentor, colocá-lo num navio, descarregá-lo no porto de destino e já está, muitos chegam a não saber das suas responsabilidades inscritas no incoterm da factura (se é que sabem o que é um incoterm!). Não há a preocupação de conhecer a legislação local, as regras das instituições envolvidas, os documentos necessários, as restrições ou condições para alguns produtos ou, mais grave ainda, os custos das operações. Há gente tão obtusa para a qual a incompetência é de quem ele contratou para transportar essa carga mas que é impossível entregar, porque a documentação recebida para o efeito não está conforme as normas locais, já que ele "não percebe nada disso, apenas quer exportar e é para isso que está a pagar". E até paga e paga demasiado, porque não há a preocupação com timmings, os documentos solicitados ficam muitas vezes a dormir não se sabe onde, e como tempo custa dinheiro, e em Angola custa mesmo muito dinheiro, os custos disparam, os prazos já lá vão e o preço de venda fica estratosférico; competitividade é ainda um palavrão abstracto para esta gente.
Existe de tudo: desde o pedreiro lá da aldeia que exporta um contentor e julga-se já um grande empresário, mas demora uma eternidade a pagar e ainda reclama do serviço, ao empreendedor que exporta dezenas de contentores por mês, cumpre tudo à risca, paga e não reclama. Ao contrário dos empresários estrangeiros que por aqui pululam nos quais a regra é a exigência e o perfeccionismo, pois estão a jogar fora de casa e como tal não brincam em serviço e querem mostrar que são os melhores. Estamos a milhas deste espírito.
Todo e qualquer empreendedor procura o lucro, mas acima de tudo e para isso deve prestar um serviço melhor ou diferente da concorrência, se procurar o lucro a qualquer custo é certo que esse custo será demasiado elevado ou até mesma fatal. Há que fazer as coisas certas ao invés de fazer bem as coisas, e como diz o povo "depressa e bem não faz ninguém", sendo que eu prefiro o ditado espanhol "sin prisa, pero sin pausa", pois muito temo que a nossa crise muito contribua para a pressa dos nossos patrões em exportarem para enriquecerem. E essa pressa a juntar ao provincianismo e ignorância foi fatal para alguns que já conheci por estas bandas.