domingo, 24 de fevereiro de 2013

10 Discos da minha vida (10º)


Weezer (1994)

Corria o ano da desgraça da morte de Kurt Cobain e toda uma geração ficava órfã antes de tempo, mas menos mal que apareceram estes "cromos" para nos dar algum consolo.
Há muito que uma estreia não era tão auspiciosa, a tal ponto que jamais conseguiram repetir a proeza da genial simplicidade do álbum de estreia.

Ouvir: Buddy Holly

sábado, 23 de fevereiro de 2013

A política da cauda curta

Juan Arias no seu blogue "Vientos de Brasil" lança uma discussão sobre um tema deveras interessante e que tão ausente tem andado do espaço público.
Vivemos um tempo surreal, um tempo em tudo acontece depressa demais, um tempo que em duvidamos do que queremos, do que fazemos, desconhecemos para onde vamos. Um pequeno livro com o curioso título de "A Cauda Longa", de Chris Anderson, revela bem como o mundo mudou nas ultimas duas décadas, nomeadamente a economia, mostrando como vivemos tempos de abundância de escolhas, com uma oferta quase infinita à distância de um clique (paradoxalmente ao mesmo tempo que atravessamos a maior crise económica de sempre). Na cauda longa de hoje acabou a economia da escassez da prateleira, diante de nós temos a oferta infinita ao preço que cada um estiver disposto a pagar; a internet e as redes sociais foram os impulsionadores deste fenómeno, revelando aquilo que os consumidores querem ao mesmo tempo que o mercado cada vez mas alarga a oferta; quem não se adaptar fica para trás, hoje mesmo. Refiro isto apenas para mostrar como a sociedade evoluiu freneticamente, a evolução foi espantosa, assim como a capacidade de adaptação da mesma a esta nova realidade em que agentes económicos e consumidores se alinham incrivelmente rápido às necessidades de uns e outros, no entanto uma parte da sociedade, aquela que talvez mais influencia tem nos nossos destinos, continua praticamente inalterada desde há séculos. Resulta assombroso constatar como as instituições políticas, os seus agentes, as suas práticas, continuam praticamente as mesmas desde há muito, demasiado, tempo, chegando sempre tarde e a más horas à realidade do momento e quase sempre com resultados catastróficos. Veja-se como as decisões acontecem sempre muito depois do acontecimento. Até a crise financeira em que estamos mergulhados não foi mais que a cauda longa a funcionar nos mercados financeiros, onde estes se adiantaram incrivelmente rápido a toda a restante sociedade, deixando os políticos atordoados com que se passava à sua volta. No mundo das redes sociais assistimos ao acontecimento praticamente em tempo real, o mesmo é difundido a uma velocidade estonteante e em minutos todos tomamos conhecimento de determinado facto. Não é chavão, de todo, dizermos que a economia está sempre um passo à frente da política, mas o pior é que não é só a economia, mas todo o mundo em que vivemos. Podemos até ver como as respostas da classe política a qualquer crise chegam sempre tarde e a más horas; não há antecipação, porque não há análise, não se olha em redor.
Isto acontece porque a política detesta o risco, na política exigem-se resultados e estes são tão mais seguros quanto menor o risco das decisões a tomar, daí que o socialismo tão bem tenha vingado ao longo da história. O socialismo pressupõe o planeamento central, o controlo dos meios de produção, quando não mesmo os resultados dessa produção, e isso pressupõe a limitação das liberdades individuais como forma de eliminar o risco subjacente à escolha infinita, mas como Hayek tão bem provou, no "Caminho para a Servidão", é de todo impossível a um grupo restrito de indivíduos processar toda a informação da sociedade para decidir e planear com sucesso. E aqui chegamos ao político obsoleto perante a cauda longa que se estende diante do cidadão comum, o qual aos poucos vai fazendo ouvir as suas escolhas, bem como a sua voz, nas ruas, nos blogues, nas redes sociais e já não apenas com a cruz no boletim de voto. No entanto, por incrível que pareça, perante a ineficácia do Estado a maioria pede ainda mais Estado, mas há indícios de que algo, aos poucos, começa a mudar. Haja esperança.

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terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

Leitura obrigatória sobre o país que somos

"(...) era capaz de não ser má ideia promover a constituição de um governo de união nacional, onde estivessem representados todos os partidos, integrado exclusivamente por presidentes de câmara. Seriamos, acredito, um povo muito mais feliz. E o país seria, seguramente, um lugar divertido, com muita animação e onde tudo constituiria motivo para uma festa. Fosse a colocação de uma máquina de multibanco numa aldeola ou a oferta de uma gaita de beiços para uma filarmónica qualquer."

Ide ler no Kruzes Canhoto que vale bem a pena.

domingo, 17 de fevereiro de 2013

O Aldebaran ou como redescobri a cozinha espanhola

Aprecio imenso a cultura espanhola, no entanto sempre andei um pouco de pé atrás no que respeita à sua gastronomia, a qual considerava uns bons furos abaixo da nossa. Fruto talvez de demasiadas experiências nas vulgares taperías (casas de tapas, que não são mais que as nossas tabernas) onde abundam os fritos e as comidas fortes e poucas visitas a restaurantes propriamente ditos.
No entanto desde que começou a moda da marca de pneus distribuir estrelas que nuestros hermanos nos dão uma banhada, pelo menos na quantidade das ditas, e assim, mediaticamente, estes têm conseguido criar uma imagem geral muito superior à nossa. Ainda assim continuava desconfiado, pelo menos no caso particular da cozinha pacence, pois com nomes do nosso lado como A Bolota ou a Herdade da Malhadinha Nova é difícil imaginar melhor. Mas pronto, lá segui o rebanho das estrelas e decidi experimentar algo que mostrasse que eu estava errado.
Por sorte em Badajoz há um restaurante que já foi bafejado pela estrela, perdeu-a em 2008 mas que ainda assim mantêm o status: Aldebaran, de seu nome. A coisa é chefiada por Fernando Barcénas (discípulo do Arzak, um dos grandes nomes da cozinha espanhola e especialista em coleccionar estrelas), que decidiu fixar-se há 22 anos em Badajoz com um projecto pessoal. Para quem estiver familiarizado com a alta cozinha alentejana aviso desde já que entrar neste local é entrar noutro mundo, um campeonato à parte. Desde a recepção à decoração, tudo é de um extremo bom gosto. Não é fácil encontrar pelas redondezas um local onde o Chef nos receba, ajude com o menu e nos acompanhe à saída.  Aqui não existem pratos experimentais tão na moda da cozinha moderna das estrelas, mas tão só uma cozinha de autor que utiliza os melhores ingredientes da região, numa reinvenção da tradição extremeña, pelo que não há muita diferença para com os ingredientes do Alentejo (afinal estamos paredes meias), mas sim um toque criativo e pessoal, sem perder o bom gosto da simplicidade e da tradição. O que distingue este local é que é único e diferente; não se descreve, experimenta-se. Tudo ali foi perfeito, ou quase, e rendi-me definitivamente à cozinha de nuestros hermanos, mostrando como o preconceito me tinha prejudicado até ali. Só num ponto as minha ideias anteriores se mantiveram: o vinho. Sem sombra de dúvidas que continua a ser o calcanhar de Aquiles dos nossos vizinhos, pois mesmo ali ao lado, no nosso Alentejo, produzem-se verdadeiras obras de arte de nível mundial.
No final a conta pagou de sobremaneira tanta qualidade e a diferença é enorme quando comparamos com restaurantes deste nível no nosso país. Aqui percebemos que o Aldebaran não é apenas um negócio, mas uma forma diferente de entender a gastronomia e isto faz toda a diferença, é aqui que realmente estamos longe dos nossos vizinhos. Na pequena conversa que tive com Fernando Barcenas, à saída do restaurante, ficou patente que o Aldebaran não quer ser mais um entre muitos a concorrer entre si, cabem todos, mas desde que cada um seja único naquilo que oferece. Depois disto cabe-me descobrir os outros locais que Badajoz oferece numa linha semelhante e que são muitos.
Mas apesar disto não me mal interpretem, pois continuo a considerar a cozinha Alentejana a melhor do mundo e arredores, só é pena que ainda não tenha tido a oportunidade de mostrar ao mundo todo o seu valor como já fizerem os nossos vizinhos, mas talvez porque ainda lhe falta um golpe de asa que a transporte para onde merece. Mas como bem sabem os alentejanos: devagar se vai ao longe.

sábado, 16 de fevereiro de 2013

Mania das aparências

Nesta notícia no El País sobre a interrupção da intervenção de Passos Coelho ao som de Grândola Vila Morena podemos ler esta descrição dos intervenientes:

"Los manifestantes pertenecen al movimiento civil 'Que Se Lixe a Troika' (Que se joda la troika en portugués)"

Dirão que a tradução do "lixe" está mal feita. Não, não está.

É que nestas coisas nuestros hermanos são muito mais sinceros, pois não me venham com cantigas, já que em todo o lado ouvimos a versão castelhana e não só aplicada à Troika.

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

A caminho da servidão

Depois de ler esta notícia (ou se for um dos seus infelizes protagonistas) recomendo ler este livro e assistir a este filme.

Certamente que a sua percepção da realidade nos dias que correm mudará substancialmente. Para pior.

domingo, 10 de fevereiro de 2013

Políticos, politiqueiros e a política do betão

Parece que Cristóvão Crespo, Presidente da Comissão Política Distrital de Portalegre do PSD, e deputado eleito pelo circulo de Portalegre, ousou criticar a política socialista vigente há duas décadas em Elvas apelidando-a como dramáticaComo seria óbvio o Presidente da Câmara, José Rondão de Almeida, não gostou e vai daí nada como apelidar Cristóvão de "polítiqueiro de meia algibeira".
Tenho para mim que qualquer refutação de uma crítica se faz pela argumentação factual devidamente justificada e não pelo insulto directo e pessoal. Mas pronto, isso sou eu.
Nisto de política o que na prática interessa são os resultados, mais que as boas intenções, promessas e tudo o resto, e se olharmos para Elvas, os resultados estão bem à vista de todos: a maior taxa de desemprego da região, o menor rendimento per capita das cidades alentejanas, uma economia anquilosada e arcaica (se é que existe economia) e betão, muito betão. Sem dúvida que Elvas tem obra para mostrar e se o desenvolvimento se medisse pelas quantidades de cimento e asfalto a cidade era o paraíso na terra. Mas infelizmente a quantidade de rotundas, campos da bola, estradas, passeios e fontes não alimentam o povo, nem lhes enche os bolsos, como atestam duas décadas de socialismo; ainda que apesar de pobres mas honrados, pois afinal o Município não tem dívidas, o que lhe permite avançar com programas sociais para minorar as dificuldades. É verdade que a crise nacional e internacional não são alheias à situação de Elvas, mas, quer queiramos quer não, não se lhes pode imputar na íntegra os resultados de duas décadas de governação, a não ser que se assuma a posição tão lusitana da culpa ser sempre dos outros.
Mas nem tudo é mau, a cidade é agora Património da Humanidade e isso significa, como não podia deixar de ser, obras como por exemplo uma excelente e moderna circular à cidade para receber as hordas de turistas que certamente chegarão. Enquanto isso não acontece, aos Elvenses, sobra contemplar as obras com o nome do edil, ler notícias como a do El País há uma semana atrás e esperar por melhores dias.

sábado, 9 de fevereiro de 2013

"Entre nós é vergonhoso reconhecer a própria pobreza, mas pior que isso é não esforçar-se para escapar dela" (*)

Camões terminou a sua epopeia com a palavra "inveja", como que atestando ad eternum, quiçá, a nossa pior característica enquanto povo. Invejamos especialmente o sucesso e a prosperidade, elegendo como alvo preferencial essa classe ignóbil que são os ricos. Invejamo-los não porque desejemos ser como eles, mas antes que eles fossem como nós: pobres. O português não quer ser como o rico, prefere que o rico fique pobre.
Isto jamais aconteceria numa sociedade onde fosse fácil e atingível enriquecer, onde o mérito fosse premiado e recompensado. É tarefa hercúlea enriquecer em Portugal. Até a cultura popular o atesta dizendo que "quem cabras não tem e cabritos vende de algum lado lhe vem". Por todo o nosso colectivo existe a imagem, bastante palpável, de que sem as ligações certas ou por meios obscuros dificilmente se enriquece em Portugal. Quem não nascer em "berço de ouro" parece condenado à partida à sua condição social, sendo que os poucos que nele nascem parecem tudo fazer para não terem sombras de outrem ao seu status quo, pois afinal o respeitinho é muito bonito e a concorrência só é salutar no futebol. Mas apesar de tudo, felizmente, existem (alguns poucos) ricos em Portugal, por isso apelamos a uma maior igualdade na distribuição de rendimentos, de preferência sob a batuta de sua santidade o Estado: que os pobres sejam menos pobres e os ricos menos ricos; que se apoiem os primeiros com os impostos sobre os segundos. Pelo Estado se enriquece, pelo Estado se empobrece.
E assim emigramos, procurando ser lá fora como os ricos que diabolizamos cá dentro. Enquanto não existir a liberdade de fazer escolhas e de assumir as suas consequências pela procura da prosperidade, sem o empecilho de um Estado controlador e manipulador, dificilmente o panorama irá mudar. Por isso emigramos, procurando e encontrando lá fora a riqueza e prosperidade que nos é negada cá dentro. Porque sabemos que a distribuição e a igualdade não funcionam, mas enquanto não assumirmos que sem criação de riqueza a única coisa a distribuir é pobreza estaremos todos condenados a esta última.

(*) Tucídides, As Guerras do Peloponeso

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segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

Elvas no El País

Retrato de um país que se alegra por regressar aos mercados, mas cujas crianças levam da escola a refeição para casa:

domingo, 3 de fevereiro de 2013

Défice de inspiração

Completamente sem inspiração para escrever seja o que for, rascunhos e ideias há muitas, mas teimam em não se transformar em posts.
Quando vivemos longe de casa, como é o caso, a melhor forma de nos mantermos informados é através dos jornais online, blogues e afins, os quais sabemos como têm tendência para o sensacionalismo, tão típico da pessimista alma lusitana eterna amante das tragédias de proporções bíblicas. Quanto pior melhor parece ser o mote. Se as coisas não estão boas, pior ainda as pintamos.
Por isso nas últimas férias fiz greve à internet e aos noticiários, tendo passado duas semanas quase desligado do mundo. E que bem que soube! Não que fosse alheio ao que se passa à minha volta, pois qualquer pessoa fazia questão de me lembrar que as coisas não andam fáceis, como se fosse algo que não salta à vista de qualquer um, principalmente na minha cidade natal, hoje quase uma aldeia... Daí também a falta de inspiração. Para quê escrever sobre aquilo que todos escrevem, pois todos sentem e vivem o mesmo? Talvez seja apenas uma fase, afinal todos vivemos momentos de pura inspiração e outros em que nem a mais simples banalidade conseguimos articular de modo a fazer sentido.
No meu caso há épocas em que tenho necessidade de uma "desintoxicação" online, de me afastar de tudo o que seja site noticioso ou blogue (telejornais incluídos), a bem da minha saúde mental, tal a profusão de cataclismos que uma pessoa encontra. Esta é uma dessas épocas. Além disso a realidade Lusitana é neste momento demasiado surreal para que estes olhos, que assistem ao longe, consigam vislumbrar algo com sentido acerca da mesma.