Há tempos atrás numa discussão entre amigos, sobre a nossa baixa produtividade, um deles disse-me que lá fora somos devidamente compensados pelo esforço, por isso quando emigramos trabalhamos mais e melhor. É um ponto de vista, mas não creio que a coisa se resuma a isto, Portugal não será uma nação desprovida de mérito, se assim é falhámos redondamente. Outro dizia-me que os baixos salários não ajudam, também é verdade. Pessoalmente tive que passar a fronteira para ver o cheque no final do mês passar a ter 4 algarismos. Mas algo mais se passa... Creio que em Portugal temos mau karma. Carregamos o fardo do fado na alma, praticamente desde que nascemos, parece que o nosso inconsciente colectivo está orientado para voar baixinho. Ainda este fim de semana um parceiro de negócio dinamarquês me perguntava porque diabo nós portugueses temos mais horas de sol que qualquer país da Europa e somos os mais tristes. Boa pergunta. A mim sempre me fez espécie quando cumprimento alguém e me responde "mais ou menos", "lá vamos indo...", façam um exercício e contem as respostas positivas, raríssimas vezes ouvirão uma resposta entusiasmante e positiva. Isto é a nossa maneira de estar.
Uma diferença abismal que encontrei quando trabalhei em Espanha foi o entusiasmo com que nuestros hermanos encaram o trabalho, a forma como sentem a organização, como vestem a camisola, a ambição e o empenho que colocam em tudo é impressionante e isto faz toda a diferença. Em Portugal, pelo contrário, a meta, na maioria das vezes, é chegar ao fim do mês, receber um salário e pouco mais. Falta ambição. Não por acaso o sonho de muita gente, ainda hoje por incrível que pareça, é um emprego na função pública. Porquê? A minha família chegou a dizer-me: "filho, pode não ser muito mas é certinho e seguro, o Estado nunca falha". Vê-se onde esta ideia nos trouxe. Em conversa com alguns jovens desempregados da minha terra natal, revoltados, eles não pedem muito, só pedem um emprego, trabalho, não pedem fortuna, apenas algo para pagar as contas ao fim do mês. O risco e a ambição não fazem parte do vocabulário. Veja-se como exemplo que em Badajoz irá abrir em breve um dos maiores centros comerciais da Península Ibérica, mas a primeira ideia a surgir é a oportunidade de emprego, a oportunidade de negócio não aparece em lado algum. Talvez seja precisamente o ambiente Lusitano que fez os nossos antepassados fazerem-se ao mar em busca de melhor sorte, simplesmente para fugir de uma nação que pensa baixinho e tem vistas curtas. Portugal é deprimente. Doa a quem doer, mas esta é a grande verdade. Todos somos culpados, como é lógico, aqui não há inocentes, pois colocássemos nós o empenho que colocamos lá fora e talvez o país não estivesse neste estado. O retorno não é igual? Pois não, mas isso não explica tudo. É notória a falta de liderança no país, sejam eles empresários ou políticos, o empurrar os problemas com a barriga e a falta de coragem para enfrentar a realidade é quase um desígnio nacional, "amanhã logo se vê" (há vida depois do défice, mas depois da dívida...) como tantas vezes e em tantos locais se ouve, lá vamos deixando para amanhã o que podíamos fazer hoje; talvez por isso o meu patrão em Espanha dizia muitas vezes que Portugal era um país de futuro, pois deixávamos tudo para amanhã. E assim continuamos numa espiral de negativismo da qual será muito difícil sair, urge então uma mudança radical na nossa forma de estar. Claro que quando quem lidera não dá o exemplo e vemos o país (des)governado em direcção ao abismo é difícil, senão impossível, ter outro estado de espírito. Mas, caramba, acreditarmos em nós e sermos ambiciosos não paga imposto, mais baixo é impossível descermos, pelo que o único caminho é para cima. Vamos parar de achar que o Estado tem que dar tudo e mais alguma coisa, isso é típico de países do terceiro mundo, somos nós que temos que fazer por isso! Enriquecer não é pecado, dá trabalho e exige esforço, mas vale a pena, pois como dizia o meu amigo dinamarquês: "não devemos exigir um walfare state, não é isso que temos no norte, isso é uma falácia pois o Estado não deve ser assistencialista, devemos exigir um efficient state, que administre correctamente a coisa pública não gastando mais do que tem e deixe os privados ganhar dinheiro, só depois podemos falar em dar seja o que for". Mais simples impossível, assim todos compreendamos do que se trata. Já ouvi muitas vezes a critica, da boca de estrangeiros, que no nosso país passamos demasiado tempo a pensar, a discutir, a opinar, a estudar e muito pouco a executar. Qualquer empresário estrangeiro perde a cabeça no nosso país dado o tempo que as coisas demoram a acontecer. É sofrível. E não há maior exemplo disso do que quantidade de fazedores de opinião que pululam pelos nossos media, debitando bitaites sobre tudo e mais alguma coisa, principalmente criticando o que foi feito e denegrindo quem faz alguma coisa, mas nunca apontando uma solução e um caminho. São puro lixo tóxico, que cada vez mais me deixam enojado e sem coragem para ler um jornal ou ouvir um debate na TV. Chega a ser freudiano o nosso sado-masoquismo.
Não há nada mais forte no mundo que uma ideia positiva, portanto creio que é hora de pararmos de tapar a luz ao fundo do túnel com a peneira, pois sol é algo que temos com fartura e ninguém o pode tapar. E deixem-se de ideias parvas como o empobrecimento como solução, que de ideias pobres está o país farto. Ninguém enriquece a empobrecer, mas sim a assentar os pés na terra, pois com a cabeça no ar ninguém vê o caminho à sua frente.