Juan Arias no seu blogue "Vientos de Brasil" lança uma discussão sobre um tema deveras interessante e que tão ausente tem andado do espaço público.
Vivemos um tempo surreal, um tempo em tudo acontece depressa demais, um tempo que em duvidamos do que queremos, do que fazemos, desconhecemos para onde vamos. Um pequeno livro com o curioso título de "A Cauda Longa", de Chris Anderson, revela bem como o mundo mudou nas ultimas duas décadas, nomeadamente a economia, mostrando como vivemos tempos de abundância de escolhas, com uma oferta quase infinita à distância de um clique (paradoxalmente ao mesmo tempo que atravessamos a maior crise económica de sempre). Na cauda longa de hoje acabou a economia da escassez da prateleira, diante de nós temos a oferta infinita ao preço que cada um estiver disposto a pagar; a internet e as redes sociais foram os impulsionadores deste fenómeno, revelando aquilo que os consumidores querem ao mesmo tempo que o mercado cada vez mas alarga a oferta; quem não se adaptar fica para trás, hoje mesmo. Refiro isto apenas para mostrar como a sociedade evoluiu freneticamente, a evolução foi espantosa, assim como a capacidade de adaptação da mesma a esta nova realidade em que agentes económicos e consumidores se alinham incrivelmente rápido às necessidades de uns e outros, no entanto uma parte da sociedade, aquela que talvez mais influencia tem nos nossos destinos, continua praticamente inalterada desde há séculos. Resulta assombroso constatar como as instituições políticas, os seus agentes, as suas práticas, continuam praticamente as mesmas desde há muito, demasiado, tempo, chegando sempre tarde e a más horas à realidade do momento e quase sempre com resultados catastróficos. Veja-se como as decisões acontecem sempre muito depois do acontecimento. Até a crise financeira em que estamos mergulhados não foi mais que a cauda longa a funcionar nos mercados financeiros, onde estes se adiantaram incrivelmente rápido a toda a restante sociedade, deixando os políticos atordoados com que se passava à sua volta. No mundo das redes sociais assistimos ao acontecimento praticamente em tempo real, o mesmo é difundido a uma velocidade estonteante e em minutos todos tomamos conhecimento de determinado facto. Não é chavão, de todo, dizermos que a economia está sempre um passo à frente da política, mas o pior é que não é só a economia, mas todo o mundo em que vivemos. Podemos até ver como as respostas da classe política a qualquer crise chegam sempre tarde e a más horas; não há antecipação, porque não há análise, não se olha em redor.
Isto acontece porque a política detesta o risco, na política exigem-se resultados e estes são tão mais seguros quanto menor o risco das decisões a tomar, daí que o socialismo tão bem tenha vingado ao longo da história. O socialismo pressupõe o planeamento central, o controlo dos meios de produção, quando não mesmo os resultados dessa produção, e isso pressupõe a limitação das liberdades individuais como forma de eliminar o risco subjacente à escolha infinita, mas como Hayek tão bem provou, no "Caminho para a Servidão", é de todo impossível a um grupo restrito de indivíduos processar toda a informação da sociedade para decidir e planear com sucesso. E aqui chegamos ao político obsoleto perante a cauda longa que se estende diante do cidadão comum, o qual aos poucos vai fazendo ouvir as suas escolhas, bem como a sua voz, nas ruas, nos blogues, nas redes sociais e já não apenas com a cruz no boletim de voto. No entanto, por incrível que pareça, perante a ineficácia do Estado a maioria pede ainda mais Estado, mas há indícios de que algo, aos poucos, começa a mudar. Haja esperança.
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