segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

O prolífico vírus do pessimismo ou a psicopatologia reinante

(Imagem via net)

Nada como uma má notícia para a mesma se gravar a ferros na memória, quanto pior mais tempo perdurará, pelo contrário podemos ouvir dezenas de boas novas que imediatamente as descartamos para um qualquer canto obscuro do inconsciente. Sempre assim foi e sempre assim será.
Freud explica alguma coisa, mas foram Bandura e Skinner que demonstraram até que ponto isto nos pode levar, pelo que, numa época em que a economia domina o debate público, seria útil fazermos uso de outros ensinamentos para sairmos do buraco em que estamos metidos. As variáveis externas ao individuo serão úteis como descritivo da realidade em que vivemos, mas ignorando os propósitos, motivações, forças e fraquezas do mesmo dificilmente teremos todas as respostas. E por isso o socialismo pode já reclamar pelo menos uma vitória: a de diminuir o individuo em prol de um bem comum, de toda a sociedade, essa entidade heterogénea onde todos são diferentes; é a vitória do todo sobre as partes. Convêm por isso recordar aos mais distraídos que as eras mais negras da História da Humanidade surgiram quando o homem deixou de ser o centro do universo, precisamente quando algo, supostamente, superior se sobrepôs ao mesmo.
É por isso que li, como uma lufada de ar fresco, o artigo de opinião de Milagros Oliva, este domingo, no El País: "Contribuyen los medios a la crisis?".
Esta brilhante tirada é lapidar:

"Solo hay que observar la gran cantidad de organismos públicos y privados que emiten informes de predicción. Pero la profusión informativa de este tipo de datos fomenta la angustiosa necesidad de saber qué ocurrirá, de anticiparse a los acontecimientos. Con ello contribuimos al secuestro del presente por un futuro incierto que no es seguro que acabe siendo como se ha previsto, pero que ya condiciona nuestras conductas. Por ejemplo, induciéndonos a aceptar que se recorte lo que aún tenemos por miedo a perderlo más adelante, que es la forma más segura de perderlo." (Bolds meus)

Mais que nunca é tempo de pararmos e tentar colocarmos alguma saúde mental no meio que nos rodeia. Parar, reflectir, ponderar, são acções que incrivelmente esquecemos com enorme facilidade a grande importância que têm. Portanto ou reflectimos seriamente sobre onde estamos e para onde queremos ir - no fundo voltarmos a colocar o Homem no seu devido lugar ao invés da sociedade - ou acabamos todos esquizofrénicos (como os políticos que um dia dizem uma coisa e no outro fazem outra). Ou amnésicos, que será ainda mais grave...

terça-feira, 24 de janeiro de 2012

Os monopólios e a liberdade em Portugal

Parece que a OCDE deu (mais) uma puxão de orelhas ao governo dizendo que a quebra dos monopólios contribuiria mais para o aumento do PIB que a reforma laboral.
Ora nada disto é novo e daí precisamente o apelo cada vez maior pelas tão propaladas reformas estruturais ao nível da economia, mas há por aí um grande senão que pode deitar tudo por água abaixo, pois só a exportar pastéis de nata não vamos lá. Sejamos claros num ponto fulcral: a própria Constituição da República coloca, preto no branco, logo no preâmbulo, que afirma a decisão do povo português "de abrir caminho para uma sociedade socialista". Ora todos sabemos que o socialismo pressupõe a procura de uma sociedade mais justa e igualitária, noutras palavras, procura a uniformização e esta só é possível de atingir com o planeamento centralizado, no Estado, de toda a sociedade. Trocado por miúdos: sem concorrência. A fim do Estado conseguir igualdade de oportunidades para todos apropria-se dos meios de produção da sociedade decidindo onde, quem e como pode produzir seja o que for, ignorando a vontade do individuo, a sua motivação interior e única, em prol do bem comum. Hayek chamou a isto "O Caminho para a Servidão" e provou claramente como se trilha, o qual nós percorremos melhor que nunca nos últimos seis anos.
Portugal é, diga-se em abono da verdade, uma república socialista. Livre mercado e concorrência são ainda miragens, num país onde os transportes, a energia ou as telecomunicações estão nas mãos de empresas públicas ou controladas pelo Estado, sem concorrência de privados, e cuja Constituição ainda vem apregoar uma economia mista onde o poder económico está subordinado ao poder político; note-se que não à vontade e necessidade pública! Como é possível concorrência com isto?! Para comprovarmos a tarefa titânica que o governo tem pela frente, para nos tirar do buraco, basta tentar encontrar na Constituição um só artigo dedicado à liberdade económica, entre tantas liberdades lá espelhadas, ou uma linha onde se refira a livre economia nas competências do Governo...
Ou não será estranho, também, que nesta altura do campeonato ninguém se pergunte como é que num país onde tão facilmente se procura fazer pela vida lá fora, emigrando, seja tão difícil exportar o que melhor se faz lá dentro? Que não é pouco e, felizmente, não se fica pelo pastel de nata.

Sobre a Europa

Convêm não esquecermos que uma corrente só é tão forte quanto o seu elo mais fraco.

segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Portugal em duas linhas

"Uma das desilusões que tenho sentido, após o meu regresso a Portugal em 2009, é a de assistir à homenagem da mediocridade e aperceber-me que, em mais de duas décadas de ausência, a maneira de ser, de pensar e de estar do povo português pouco mudou. Não se conseguiu libertar de certas amarras que vem arrastando consigo há séculos e continua a dar demasiado valor e importância ao supérfluo e às aparências, numa sociedade hierárquica, falha de coesão e de um genuíno sentido pátrio."

Julieta-Ferreira, em 2711

sábado, 21 de janeiro de 2012

Sobre as relações entre Portugal e Angola

Muito sem tem dito e escrito sobre o recente programa da RTP em directo de Luanda sobre as relações entre os dois países.
Produto de propaganda, mero marketing, acção de charme, entre outros, foram os adjectivos, sempre em tom pejorativo, atirados sobre tal programa. E qual é o problema de assim for? No que toca ao deus dinheiro as coisas são o que são e devem ser tratadas como mandam os cânones da mais simples prática económica. Num momento de grave crise económica devemos incrementar a acção nos mercados que nos são mais favoráveis e neste aspecto Angola tem, como todos sabem, um papel de destaque nas nossas exportações fora do espaço Europeu. Portanto a coisa é fácil de explicar: temos de um lado um país a desejar manter um dos principais destinos das suas exportações e do outro um a desejar manter um dos seus principais investidores estrangeiros.
Sejamos sérios, a relação interessa em partes iguais aos dois, pois de forma alguma será positivo que o investimento português em Angola diminua há três anos consecutivos, quando atingiu em 2008 cerca de mil milhões de dólares, sendo nesse ano o terceiro maior investidor estrangeiro; da mesma forma estes desejam continuar a investir lá fora, nomeadamente Portugal, principal destino dos seus capitais, podendo este servir como plataforma para outros países. E não sejamos hipócritas ou alguém acredita que países como Alemanha ou França recebam de braços abertos o investimento angolano como nós?

terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Leitura do dia

"Estamos dispostos a aceitar praticamente qualquer explicação para a crise actual da nossa civilização, excepto uma: que este estado de coisas no mundo pode ser o resultado de um verdadeiro erro da nossa parte, e que a prossecução de alguns dos ideais que mais acarinhamos produziu, pelos vistos, resultados completamente diferentes daqueles que esperávamos."

Friedrich Hayek, O Caminho para a Servidão

sábado, 14 de janeiro de 2012

Crónica de umas férias agridoces

Mais um ano que passou, mais um de enormes desafios pela frente e o fim de mais umas férias na terra natal, que o trabalho não pára e Angola muito menos.
Foram umas férias fabulosas, mais que merecidas, onde todos os minutos foram aproveitados na companhia dos mais queridos. Deleitei-me com o melhor do meu Alentejo, essa imensa planície que não se esquece por muito longe que estejamos, essa maravilhosa terra à qual não há melhor que regressar... E digam o que disserem tem a melhor gastronomia do mundo! Comi e bebi com inaudito prazer como há muito não fazia, tal as saudades que a barriga já tinha destes prazeres que só a minha terra proporciona. Como é da praxe lá marquei presença n' A Bolota e no Ti Catrina, o melhor do Alentejo e o melhor peixe de Elvas, respectivamente, mas a surpresa foi a Cadeia Quinhentista, em Estremoz, onde tradição, inovação, bom gosto e classe andam de mãos dadas. Altamente recomendável.
No fim de semana de passagem de ano rumei a Lisboa para matar saudades, onde há muito não passava uns dias, pois como qualquer Alentejano que se preze, volta e meia, há que ir à capital para não estupidificar. Dizem que ali é o país e o resto é paisagem... Bem instalado nas Janelas Verdes fui conhecer o premiado Le Chat, o qual só pelas vistas vale a visita enquanto a originalidade do espaço faz o resto. No dia 31 de manhã, em jeito de preparação para a respectiva noite de copofonia, a alma pedia Cultura, pelo que lá rumei ao Museu Nacional de Arte Antiga para bater com o nariz na porta, a qual mostrava que o Sr. Director do IMC tinha decidido tolerância de ponto para os dias 24 e 31 de Dezembro. Mas, afinal, o Governo não tinha decidido o contrário? Era ver a quantidade de turistas, nacionais e estrangeiros, incrédulos à porta do Museu, para concluir o disparate da decisão. Adiante, para diluir a frustração, nada como um café n' A Brasileira e uma visita à velhinha Bertrand para compensar. Valeu por um Drucker que há muito procurava. Já com as leituras debaixo do braço foi hora de um passeio pela Baixa, pois o sol a isso convidava, até que se fez tarde e o estômago pediu recompensa, pelo que foi hora de rumar ao Bica do Sapato, espaço que há muito desejava conhecer. Não desiludiu e cumpriu de sobremaneira, é excelente, mas não surpreendeu, e quem conhecer alguns dos melhores do Alentejo compreenderá porquê. Como o dia 1 de Janeiro não é dado a grandes iniciativas (a ressaca não ajuda) lá fui conhecer o Oceanário de Lisboa (eu sei, parece mentira mas não conhecia), sendo a escolha perfeita para o dia em causa. Fiquei intrigado com uma coisa: porque diabo andavam os lisboetas a passear num Centro Comercial, neste caso o Vasco da Gama, num dia onde só os restaurantes e os cinemas funcionavam?! Enfim, portuguesisses...
No outro lado da moeda ficou o sabor amargo de ver a nossa capital algo degradada, pareceu-me uma cidade suja, mal tratada, abandonada à sua sorte e muito longe do esplendor de dias passados. Sinal dos tempos que correm? A crise, certamente, não explica tudo. A mesma crise que via em Luanda pela televisão, mas pude comprovar em primeira mão ser bem real e mais dura do que me parecia à distância. Vi um país à toa, com as pessoas à deriva, ao sabor do vento e das ondas, desesperadas por uma bóia que tarda em surgir e com apenas uma certeza nos lábios: o que aí vem vai ser terrível. Fomos todos avisados e enganados, e estávamos a gostar até que nos apresentaram a conta. Mas vi igualmente um país a aprender a viver de outra forma, a reformular mentalidades e formas de estar. No fundo a renascer. Só por isso a liderança do país devia também ela reformular-se a si mesma, pois um povo não deve mudar de vida para que os seus líderes continuem como sempre. Esse é o caminho para a servidão, que estamos todos ainda a tempo de evitar.