As férias lá na terreola começam a tornar-se cada vez mais agridoces, pois se à alegria de voltarmos temporariamente a casa junta-se a amargura de ver a vermos cada vez mais triste. Elvas é neste momento praticamente um deserto. Sem empregos, sem dinheiro, sem diversões e sem ideias. Mas mais grave: sem pessoas.
Aqui há uns anos a cidade tinha uma das vidas nocturnas mais agitadas do Alentejo, principalmente no Verão, com as noites aos fins de semana a fervilharem de movimento. A influência de nuestros hermanos sempre se fez sentir e como tal o elvense sempre foi dado a folias. Até que a Câmara Municipal, sempre zelosa do conforto dos seus cidadãos à boa maneira socialista, decidiu reduzir o horário da zona nocturna por excelência - a Cidade Jardim - até à meia-noite, compensando com a autorização para os bares do Coliseu encerrarem mais tarde (afinal este tinha que ter alguma utilidade além de ostentar o nome de tão zeloso autarca e um concerto ou outro de tempos a tempos). Aparentemente uma boa decisão, já que estava a defender os moradores da zona, começa agora a revelar suas as verdadeiras consequências. Acabar a noite à hora em que a mesma está a começar, principalmente no Verão, não é lá muito boa ideia e desanima qualquer um a alinhar. É verdade que depois da meia-noite sempre podemos ir até ao Coliseu, mas a distância do mesmo não ajuda e já que a malta tem que pegar no carro o mais certo é rumar a Badajoz onde a oferta é maior, já que apenas quatro bares (!?) não é coisa lá muito diversificada. Resultado: a Cidade Jardim está moribunda e dos bares do Coliseu, segundo me contaram, resta apenas um. Não há vida nocturna em Elvas. As consequências económicas não são, assim, de desprezar.
Sem consumo não há circulação de dinheiro na cidade, a não ser que o Município ignore que um bar é um negócio como qualquer outro que arrasta consigo uma série de fornecedores; por outras palavras: cria e ajuda a criar empregos. Numa cidade onde pouco ou nada há para fazer sobra o tempo para beber umas cervejolas, mas, se nem isso uma pessoa consegue fazer a malta vai para outros locais onde gastar os seus Euros e o seu tempo. Badajoz agradece.
Já sobre o comércio nem sei que dizer. Há pouco mais de uma década os cidadãos espanhóis enchiam as ruas do comércio elvense, disputando as lojas com elvenses e vizinhos de outras localidades. Aos sábados de manhã era quase impossível andar a pé nas ruas da cidade. Havia oferta e diversidade. Tudo isso desapareceu. A falta de competitividade dos comerciantes existe, a sua não modernização e acompanhamento das tendências é uma realidade, mas não explica tudo. A cidade acompanhou as tendências de "modernização" que assolam todas as cidade históricas do país: restauros e requalificações, que na sua maioria não são mais que betão para votante ver e restrições à circulação automóvel, muitas restrições, desde vias com novos sentidos, proibições, supressão de lugares de estacionamento gratuitos à porta de casa e sua substituição por parques pagos uns quarteirões abaixo (esta é o socialismo no seu esplendor), etc. Ou seja toda uma miríade de boas intenções que visavam defender o bem público. Mas Elvas não é uma metrópole com uma moderna rede de transportes públicos, o seu centro histórico ainda tem uma dimensão considerável e uma população bastante envelhecida, pelo que limitar a circulação de pessoas é limitar a circulação de dinheiro. Se também aqui temos que pegar no carro e estacionar longe do nosso ponto de interesse, mais vale fazê-lo onde há mais oferta e qualidade. Mais uma vez Badajoz agradece. Por isso as decisões políticas devem sempre ter em conta as características e idiossincrasias próprias do meio em que se inserem. E as pessoas ainda se perguntam o porquê da recente deslocação do comércio e serviços para os subúrbios como a já referida Cidade Jardim.... Dirão que me esqueço da crise que todo o mundo atravessa. Pelo contrário, a crise tem tudo a ver com a pasmaceira que se vive em Elvas. O que atrás referi não explica tudo, mas ajuda e muito; o problema está que se a uma crise juntamos restrições à actividade económica então temos traçado o caminho perfeito para o desastre.
Diz o povo que de boas intenções está o inferno cheio. E o socialismo também, digo eu.
PS: resta o consolo e a esperança na recente nomeação da cidade a Património Mundial, mas este titulo por si só nada significa se não se trabalhar para o dar a conhecer.
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