segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

Uma boa notícia para a economia

Deparei este fim-de-semana com uma interessante notícia, que há primeira vista poderia ser má, mas que, no entanto, pode ter uma repercussão positiva na economia: a redução dos bónus aos executivos de Wall Street.
Os gestores cometemos muitas vezes o erro de ignorar como as nossas práticas influenciam a economia de uma forma muitíssimo mais vasta do que parece. Tendemos a acreditar que as nossas técnicas e decisões ficam entre as paredes das nossas organizações, influenciando apenas os resultados obtidos pelas mesmas, descurando que são essas mesmas organizações que compõem os "malvados" mercados ditando as suas tendências. Vivemos para o exercício de contas e pouco mais. Ora a crise do subprime norte-americano provou, se ainda dúvidas houvesse, que assim não é, pois a mesma surgiu pura e simplesmente de práticas de gestão irresponsáveis por parte dos executivos das instituições financeiras. Não é por acaso que Henry Minztberg no seu "Gestores, não MBA's" já avisava o que estava para vir graças aos novos super-heróis da gestão e à forma como eram formados, tal como voltou em 2009, já depois da crise rebentar, a criticar de forma contundente os bónus que hoje, finalmente, reduzem.
Os bónus, tal como e a quem são atribuídos, são um fim que justifica os meios. Foram-no para a crise financeira, assim como o estão a ser para a crise da dívida soberana europeia: juntem no mesmo saco políticos medíocres com ânsia de poder, leia-se votos, um povo que acredita no milagre da multiplicação dividindo e executivos sedentos de lucro e o resultado está à vista (para quem julga que o fenómeno é só do outro lado do atlântico pode ver aqui como anda o Deutsche Bank).

"In something as complex as the contemporary large corporation, how can success over three or even 10 years possibly be attributed to a single individual? (...)
I believe that if you do pay bonuses, you get the wrong person in that chair. At the worst, you get a self-centered narcissist"

Infelizmente quer-me parecer que esta repentina mudança nos bónus dos financeiros deve-se mais à crise propriamente dita, do que a uma mudança de paradigma. A ver vamos, mas para bem de todos esperemos que não e que de uma vez por todas compreendamos que é aquilo que fazemos nas nossas empresas que dita o estado da economia, que influencia os mercados, e vice-versa. Pois como escreveu John Roberts, na sua excelente obra, sobre a organização das empresas e a economia, "A Empresa Moderna":

"Na verdade, numa economia moderna, na maioria dos contextos, um indivíduo no seu emprego não produz, de facto, nada que queira pessoalmente consumir. Em vez disso, deverá trocar o conjunto limitado de coisas que produz pela vasta maioria de bens e serviços que realmente pretende e que são produzidos por outros".

Posto isto creio que todos compreendemos e aceitamos que procurar resultados a troco de chorudos bónus, ao invés de criar organizações eficientes e equilibradas, não é lá muito saudável. É que às tantas ninguém compra o que supostamente produzimos e a coisa estoira...

9 comentários:

Fada do bosque disse...

Lá tinha as suas razões... o Marx, para dizer que a divisão do trabalho, gerida apenas por alguns, iria escravizar o ser humano. Como disse e com razão, o interesse individual está acima do interesse colectivo.
Entretanto, veja a arma poderosa que fizeram com a economia.

http://marecinza.blogspot.com/2012/02/armas-silenciosas-para-guerras_20.html

André Miguel disse...

Fada,
E ainda bem que assim é. Não confundir interesse egoísta com interesse individual; é o bem estar individual que conduz ao bem estar colectivo e não o contrário.
Dispenso Marx, prefiro Smith, Hayek ou Drucker.

Fada do bosque disse...

Pois é, André mas pelos vistos houve quem confundisse os conceitos e a economia chegou ao que chegou. Nisso Hayeck concordou com Marx... "Hayek procurou mostrar que a tendência de substituir-se a ordem espontânea e infinitamente complexa de mercado por uma ordem deliberadamente criada pelo engenho humano e administrada por um sistema de planeamento central acabava resultando inexoravelmente no empobrecimento e na servidão."

Pelos vistos ambos tinham razão.

O Marx, parece que se transformou em tabu, apesar de ter sido um génio e antecessor dos economistas liberais, ou estou errada?...
Será que Marx era marxista?! :)

Anónimo disse...

Não é que tenha que ver com boas notícias, mas encontrei um comentário antigo de V.ª Ex.ª no blog cidad'elvas, indagando da razão por que os blogs de Elvas estavam a acabar ou primavam pela falta de criatividade.

Nunca imaginou V.ª Ex.ª a razão pela qual o blog de Tiago Abreu e o blog Zé de Melro foram fechados?

Por que razão não foram simplesmente abandonados como muitos outros?

Como observador atento da realidade Elvense, deveria V.ª já ter percebido que o exercício da Cidadania em Elvas está severamente cerceado, entre emitir uma inócua opinião e uma injúria ou difamação está no escritório de advogados que o poder local possa contratar.

Por isso talvez seja preferível transcrever sem imaginação, o crime contra a honra da autarquia será sempre de terceiros.

Um abraço do falecido Zé de Melro.

André Miguel disse...

Fada,
Marx foi um critico feroz do liberalismo e da propriedade privada! O seu manifesto comunista lançou as bases para o socialismo como o conhecemos hoje. Não digo que não tivesse algumas boas ideias, mas eu, ideologicamente, não vou, nem conseguiria ir, por aí.

André Miguel disse...

Zé,
Se o que diz é verdade então só tenho a lamentar.

Fada do bosque disse...

André,
Marx lançou as bases do socialismo sim, mas no séc XX foi-nos demonstrado que as suas teorias não passavam de uma utopia. Assim como era crítico do liberalismo, que desenvolvido pelos liberais do mercado livre e neoliberais, se transformou no capitalismo predador, que temos hoje e que nos está a levar a uma ditadura económica global, à destruição da classe média, dos recursos naturais e a uma sociedade de classes ou castas. Isto para mim só prova, que tanto o interesse colectivo acima do individual, assim como o individual acima do colectivo, associados ao poder e ao dinheiro, se tornam num factor antagónico quando chega a altura do ser humano se desenvolver integralmente.
Quanto a conceitos Esquerda/Direita, ou ideologias, foram completamente diluídas no início deste século. Como disse Jonh Grey, é a morte da utopia. Marx ainda tinha esperança no colectivo, ele sabia muito bem o que é o poder aliado ao individualismo, daí a repulsa à propriedade privada e a crítica ao liberalismo. Era apenas isso que eu queria dizer.

Daniel Santos disse...

bem colocado.

André Miguel disse...

Obrigado Daniel.