No conforto do nosso mundo ocidental temos o desenvolvimento como um conceito "nosso", que define o próprio status das nações. O ocidente personifica o mundo desenvolvido e separa-o dos outros, o que leva a que quando pretendemos definir o conceito nem sequer tentamos, basta para isso apontar um qualquer país do hemisfério norte.
A experiência em África mostrou-me que um país é tão mais desenvolvido quanto mais eficaz a evitar o desperdício e a gerir os seus recursos, materiais e humanos. A pobreza aqui não é por falta de recursos, mas antes causa de um gritante desperdício. Como exemplo veja-se Luanda, servida por dois rios, o Kwanza a sul e o Dande a norte, no entanto a falta de água faz parte do dia a dia, ao mesmo tempo que é frequente vermos ruas transformadas em rios por rebentamento de condutas. A reciclagem é ainda uma miragem por estas bandas, a burocracia do país em nada inveja a lusitana e o país importa quase tudo, com um custo muito superior ao que pagaria se houvesse produção local.
Assim, os países desenvolvidos não o são por serem ricos ou seguros, mas porque são eficazes na gestão dos seus recursos; as suas economias funcionam porque se combate a corrupção, a sua justiça é célere porque não vive numa teia legislativa complexa e insensata que se adia ad eternum, as suas instituições funcionam porque não se temem as decisões urgentes e necessárias e a coisa pública limita-se ao essencial.
Nesta perspectiva, por muito que nos custe admitir, estamos ainda a uns bons passos de nos considerarmos desenvolvidos. Não basta abrir a torneira e ter água potável, electricidade 24 horas por dia, auto-estradas com fartura ou todas as criancinhas com um portátil na escola, é preciso também que a justiça seja rápida, que a corrupção seja eliminada e a burocracia reduzida ao essencial. É preciso que os nossos cidadãos sintam que vale a pena o esforço e que o mérito é premiado sem cartões de militante, ao invés de serem tratados como meros números de identificação fiscal. As empresas devem ser tidas como criadoras de riqueza ao invés de maquiavélicas organizações às quais há que dificultar a actividade com taxas, taxinhas, alvarás, licenças e o diabo a quatro. Há que acabar com as discussões à volta dos pentelhos e atacar o que realmente importa, só então seremos um país desenvolvido.
Somos, então, subdesenvolvidos? Não. Pois como dizia Peter Drucker: "não há países subdesenvolvidos, há países subgeridos".
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