África é um velho continente de jovens países, muitos deles ainda na infância se os compararmos em termos de longevidade, enquanto nações, com a velha Europa, daí que ainda procurem uma identidade, um rumo, um caminho.
Quem conhecer esta realidade, principalmente pelas suas características políticas e económicas, sabe bem que assim é, pois só mesmo neste continente se pode ser anti-imperialista e adepto do mercado livre ao mesmo tempo. Não é de todo fora do comum vermos o liberalismo andar de mãos dadas com socialismo. Como prova atente-se no post de Sanou Mbaye (economista senegalês) no blog do El País, África no es un país, publicado no passado dia 30 de Março com o sugestivo título "África ao socorro de África". Destaco algumas passagens:
"Los países del continente deben liberarse de la imposición de los mercados para unirse al campo de la resistencia al capitalismo salvaje y belicoso de los adeptos a la vigente versión neoliberal de la mundialización. Será dentro de la Unión Africana donde los países del continente, agrupados y solidarios, pueden aceptar este desafío, favoreciendo una política de regionalización previa a la unificación del continente y al nacimiento de los Estados Unidos de África"
"Nada más alejado del africano que el mercantilismo en el que todo está sujeto a las leyes del comercio"
"Este desfase cultural se aprecia también en la actitud de los empresarios chinos en África, que no entienden el comportamiento de sus asalariados, que se niegan a hacer horas extraordinarias, prefiriendo la compañía de su comunidad a un excedente de dinero."
"Esta situación puede permitir la creación de decenas de millones de empleos en el mundo durante las décadas futuras para restaurar esos desequilibrios. Este objetivo debe crear los fundamentos de una auténtica cooperación entre la Unión Africana, los Estados miembros y la comunidad internacional."
"Es ya el momento de que los africanos se liberen de su alienación, pongan fin a sus divisiones y reivindiquen su espíritu empresarial."
Creio fantástico como podemos condenar algo e ao mesmo tempo defende-lo.
Neste caso Mabye comete a proeza de criticar o capitalismo selvagem, neoliberal (não podia faltar a palavra mágica) e a globalização, ao mesmo tempo que defende exactamente o mesmo, mas só dentro das fronteiras na União Africana. Segue por aí fora criticando até o modelo capitalista da China, para depois constatar que só a cooperação entre a União Africana e a comunidade internacional pode corrigir os desequilíbrios no mundo... Já para o final coloca a cereja em cima deste bolo deveras confuso, apelando ao espírito empresarial dos africanos, quando ao inicio do texto explicava que nada mais longe dos africanos do que o mercantilismo, em que tudo esteja sujeito às leis de mercado!
Quem escreveu aquelas linhas, não é um qualquer, é um antigo executivo do Banco Africano de Desenvolvimento e editor do Le Monde Diplomatique. Portanto vejamos a ambiguidade e gravidade da coisa, pois com tamanha esquizofrenia ideológica, bem podem os africanos criticar à vontade o capitalismo, o neoliberalismo e outros "ismos", que África continuará entretanto sem soluções, mas mais grave ainda sem ideias, que é o que este post prova claramente, se dúvidas houvesse, e que nos deve deixar a todos deveras preocupados. Quando queremos estar no rumo certo só há um caminho, agora tentar agradar, política e economicamente, a gregos e troianos, é que não será certamente a melhor opção. Assim como criticar o baixo investimento estrangeiro num continente com graves insuficiências de água, energia e redes de transportes, mas ao mesmo tempo altos índices de corrupção é, no mínimo, hipócrita. Ou então Mbaye no comodismo de Londres há muito que não visita África.
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