Com mais um governo sob fogo cerrado e com a contestação nas ruas como há muito não se via começa a instalar-se a ideia de Portugal ser um país ingovernável.
Três falências em 38 anos de democracia não são para qualquer um e são motivo mais que suficiente para equacionar o epíteto de Estado falhado. Bem sei que o adjectivo é forte demais, mas um Estado no qual os seus cidadãos têm a sensação de que a justiça não funciona, onde há impunes, onde é quase impossível enriquecer sem as ligações certas, onde mais que cidadãos são tratados apenas como contribuintes sugados para a bancarrota e onde os seus salários são pagos de forma recorrente pelo FMI não merece ser considerado um verdadeiro Estado. Por muito que nos doa é hora de encarar a realidade: o regime não funciona. E não vale a pena vir dizer que as elites são fracas e as lideranças mais fracas ainda, que o são, mas foram paridas no seio do mesmo povo que governam, nasceram no mesmo país, andaram nas mesmas escolas e universidades que todos nós, e um povo que faz da selecção de futebol um desígnio nacional e do fado um estilo de vida tem as lideranças que merece. Já se disse que não governamos, nem nos deixamos governar. Nada mais longe da verdade, o problema é não nos interessarmos sobre como devemos ser governados. Quando a exigência e o mérito não são apanágio da prática diária de um povo é mais que normal surgirem lideranças fracas. E quando falo de exigência não me refiro a ir para a rua gritar palavras de ordem quando nos vão ao bolso, mas por exemplo manifestar um pouco de indignação quando um certo emigrante em Paris prometia o paraíso com dinheiro dos outros a troco de duplicar a dívida pública.
É por esta falta de exigência, este "deixa andar", este "depois logo se vê", que o país chegou a um estado perto do irrespirável, a um estado em que o chico-espertismo e o amiguismo levam a avante sobre o mérito e o esforço. Não por acaso nem um só político em Portugal se atreve a prometer trabalho, esforço e sacrifícios em campanha eleitoral e ele vê-se onde as facilidades e o progresso nos trouxeram... Só mesmo por manifesta ingenuidade muita gente ainda se pergunta porque quando emigramos mudamos tão radicalmente e lá fora somos excelentes em tudo o que fazemos. Nada mais fácil: o esforço recompensa, mesmo sabendo que nos espera muito trabalho. E em Portugal? Saberemos de que servirão os sacrifícios e o imenso trabalho de hoje? Se não, talvez seja hora de repensar de vez o sistema e recomeçar de novo.
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2 comentários:
Um bom ponto de partida era percebermos que não há dinheiro. Mas se nem um conceito tão básico e uma frase de apenas três palavras a maioria dos portugueses consegue perceber...
Kruzes,
Sem dúvida. Era precisamente esse o ponto de partida ideal. Mas a malta continua em negação, tá tudo à espera que a coisa acalme para continuar tudo como antes.
Abraço
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